sábado, 26 de outubro de 2013

O Tribunal Celestial

Durante as suas explicações sobre o período das "70 semanas"(a), o anjo Gabriel citou a inauguração do ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial, que ocorreu com a unção do "santo dos santos".



O santuário terrestre, réplica do santuário celestial (Êxodo 25:8-9;Hebreus 8:1-2; Hebreus 9:11 e 24), foi ungido com óleo santo para que fosse consagrado para os seus serviços (Levítico 8:10-11). E o santuário celestial também deveria ser consagrado para o ministério intercessório de Jesus. Isto é revelado por Gabriel ao dizer: "para ungir o santo dos santos" (Daniel 9:24 BJ), ou, "ungir o santíssimo" (Daniel 9:24 NVI).

Com Sua ascensão, pouco tempo depois de Sua ressurreição, Jesus iniciou(b) Seu ministério como intercessor no santuário celeste.1 "A ida de Cristo ao lugar santíssimo como nosso sumo sacerdote para purificação do santuário a que se faz referência em Daniel 8:14; a vinda do Filho do homem ao Ancião de Dias, conforme se acha apresentada em Daniel 7:13; e a vinda do Senhor a Seu templo, predita por Malaquias 3:1, são descrições do mesmo acontecimento."2

"De fato, segundo a lei, quase todas as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não há perdão. Portanto, era necessário que as cópias das coisas que estão nos céus fossem purificadas com esses sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios superiores." (Hebreus 9:22-23 NVI). Durante a antiga aliança, as transgressões do povo de Deus eram pela fé transferidos simbolicamente para a oferta pelo pecado e então transportadas para o santuário terrestre (Hebreus 9:9-10 cf. Levítico 4:1-3, Levítico 16:15-16), mas, sob o novo concerto, os pecados confessados são pela fé colocados sobre Cristo pelos méritos de Seu precioso sangue (Hebreus 10:19-22; Romanos 3:23-26).3

E, com o mesmo objetivo que o dia da Expiação(c) era realizado para remover os pecados do santuário terrestre (Levítico capítulo 16), o santuário celestial é purificado pela remoção final de todos os pecados registrados nos livros celestiais (Daniel 7:9-10). Mas antes que ocorra a limpeza desses registros, eles serão examinados a fim de se determinar quem, através de arrependimento e fé em Cristo(d), está apto a entrar em Seu reino eterno. "A purificação do santuário, portanto, envolve uma obra de juízo investigativo. Isto ocorre antes da vinda de Cristo para resgatar Seu povo, pois quando vier, Sua recompensa estará com Ele para dar a cada um segundo as suas obras (Apocalipse 22:12)."4 Em essência, o dia da Expiação é um dia de julgamento.5

Todos aqueles que verdadeiramente se arrependeram e pela fé suplicaram o sangue do sacrifício expiatório de Cristo, terão assegurado o perdão. Quando seus nomes forem chamados a julgamento e se constatar que eles estão revestidos pelo manto da justiça de Cristo(e), seus pecados serão apagados e eles serão considerados dignos da vida eterna.6 "Aquele que vencer", disse Jesus, "será assim, vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do livro da Vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de Meu Pai e diante dos Seus anjos." (Apocalipse 3:5 RA cf. Êxodo 32:33).

Na antiga aliança(f), somente os que tinham vindo perante Deus com confissão e arrependimento, e cujas transgressões eram transferidas para o santuário através do sangue da oferta pelo pecado, participavam da cerimônia do dia da Expiação (Levítico 23:26-29). Semelhantemente, hoje, durante o juízo investigativo (o grande dia da Expiação), os únicos casos a serem considerados são daqueles que manifestam arrependimento por seus pecados e depositam fé no Cordeiro de Deus (João 1:29). O julgamento dos ímpios constitui obra distinta, e ocorre em ocasião posterior. Quanto a isso o apóstolo Pedro afirma:

"Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus? E, se é com dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o ímpio, sim, o pecador?" (I Pedro 4:17-18 RA).

O juízo investigativo descrito por Pedro é destinado àqueles que professam serem seguidores de Cristo, e visa julgar se são dignos de terem seus nomes escritos no livro da Vida, pois, de acordo com Jesus: "Nem todo aquele que Me diz: 'Senhor, Senhor', entrará no reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de Meu Pai que está nos céus. Muitos Me dirão naquele dia: 'Senhor, Senhor, não foi em Teu nome que profetizamos e em Teu nome que expulsamos demônios e em Teu nome que fizemos muitos milagres?' Então Eu lhes declararei: 'Nunca vos conheci. Apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade'(g)." (Mateus 7:21-23 BJ).

Os demais que não têm a Jesus como Salvador já escolheram seus destinos, para estes, destina-se a seguinte mensagem: "'Eu virei a vocês trazendo juízo. Sem demora testemunharei contra os feiticeiros, contra os adúlteros, contra os que juram falsamente e contra aqueles que exploram os trabalhadores em seus salários, que oprimem os órfãos e as viúvas e privam os estrangeiros dos seus direitos, e não têm respeito por Mim', diz o Senhor dos Exércitos." (Malaquias 3:5 NVI). Aos que recusaram a salvação oferecida por Deus, restará apenas a sentença final descrita em Apocalipse 20:11-15 (cf. Jeremias 6:16).

"No juízo final, a posição, a classe, ou a riqueza não alterarão por um fio de cabelo, sequer, o caso de ninguém. Pelo Deus que tudo vê, serão os homens julgados segundo o que são na pureza, nobreza e amor a Cristo."7

Os livros do tribunal celestial

"O tribunal iniciou o julgamento, e os livros foram abertos." (Daniel 7:10 NVI). Os livros de registros no Céu, nos quais estão relatados os nomes e ações dos homens, conduzem a decisão do juízo. "Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más." (Eclesiastes 12:14 RA). "Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, delas darão conta no dia do Juízo; porque pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado." (Mateus 12:36-37 RA). Os propósitos e intuitos secretos aparecem no infalível registro; pois Deus "trará à luz o que está oculto nas trevas e manifestará as intenções dos corações." (I Coríntios 4:5 NVI cf. Hebreus 4:12-13).

A obra de cada homem passa em revista perante Deus, tanto os registros de fidelidade quanto de infidelidade. Ao lado de cada nome, nos livros do Céu, estão escritos com exatidão toda palavra inconveniente, todo ato egoísta, todo dever não cumprido e todo pecado secreto; juntamente com toda hipocrisia dissimulada. Advertências enviadas pelo Céu que foram negligenciadas, momentos desperdiçados, oportunidades não aproveitadas, influência exercida para o bem ou para o mal, juntamente com seus resultados de vasto alcance, tudo é fielmente registrado.


Por sua vez, o livro da Vida contém os nomes daqueles que estão em comunhão com Deus e ao Seu serviço. Jesus disse a Seus discípulos: "(...) alegrai-vos, antes, porque vossos nomes estão inscritos nos céus." (Lucas 10:20 BJ). Paulo fala de seus fiéis cooperadores, "cujos nomes estão no livro da Vida" (Filipenses 4:3 BJ). Daniel olhando através dos séculos para um "tempo de angústia qual nunca houve", declara que se livrará o povo de Deus, "todos os que se encontrarem inscritos no livro" (Daniel 12:1 BJ). E João afirma que apenas entrarão na cidade de Deus aqueles cujos nomes "estão inscritos no livro da Vida do Cordeiro" (Apocalipse 21:27 BJ).

Além dos livros de registros e do livro da Vida, a Bíblia menciona "um memorial" escrito diante de Deus, no qual estão registradas as boas ações "dos que temiam o Senhor e honravam o Seu nome" (Malaquias 3:16 NVI). Suas palavras de fé, seus atos de amor, acham-se registrados no Céu. Neemias refere-se a isso quando diz: "Por isto, Deus meu, lembra-Te de mim e não apagues as beneficências que eu fiz à casa de meu Deus e para o Seu serviço." (Neemias 13:14 RA).

No "livro Memorial" de Deus, toda ação de justiça se acha imortalizada. Ali, toda tentação resistida, todo mal vencido, toda palavra de terna compaixão que foi proferida, acham-se fielmente historiados. E todo ato de sacrifício, todo sofrimento e tristeza suportados por amor de Cristo, encontram-se registrados. Diz o salmista: "Contaste os meus passos quando sofri perseguições; recolheste as minhas lágrimas no Teu odre; não estão elas inscritas no Teu livro?" (Salmos 56:8 RA).

Considerações Finais

"Vivemos hoje no grande dia da Expiação. No cerimonial típico [cerimonial mosaico], enquanto o sumo sacerdote fazia expiação por Israel, exigia-se de todos que afligissem a alma pelo arrependimento do pecado e pela humilhação, perante o Senhor, para não serem extirpados dentre o povo. De igual modo, todos quantos desejem ver o seu nome conservado no livro da Vida, devem, agora, nos poucos dias de graça que restam, afligir a alma diante de Deus, em tristeza pelo pecado e em arrependimento verdadeiro. Deve haver um exame de coração, profundo e fiel. (...)

Quando se encerrar a obra do juízo de investigação, o destino de todos terá sido decidido; ou para a vida, ou para a morte. O tempo da graça finaliza pouco antes do aparecimento do Senhor nas nuvens do céu. Cristo, no Apocalipse, prevendo aquele tempo, declara: 'Quem é injusto, faça injustiça ainda; quem está sujo suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo seja santificado ainda. E, eis que cedo venho, e o Meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra.' (Apocalipse 22:11-12 KJV cf. Apocalipse 16:17).

Os justos e os ímpios estarão ainda a viver sobre a Terra em seu estado mortal; estarão os homens a plantar e a construir, comendo e bebendo, todos inconscientes de que a decisão final, irrevogável, foi pronunciada no santuário celestial. Antes do dilúvio, depois que Noé entrou na arca, Deus o encerrou ali, e excluiu os ímpios; mas, durante sete dias, o povo, não sabendo que seu destino se achava determinado, continuou em sua vida de descuido e de amor aos prazeres, zombando das advertências sobre o juízo iminente. 'Assim', diz o Salvador, 'será também a vinda do Filho do homem' (Mateus 24:37-42). Silenciosamente, despercebida como o ladrão à meia-noite, virá a hora decisiva que determina o destino de cada homem, sendo retraída para sempre a oferta de misericórdia ao homem culpado."8

A Bíblia descreve claramente o tribunal celestial e a hora de seu juízo. As cenas desse grande julgamento estão reveladas, tem-se:
  • O Tribunal: "Pois todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba de acordo com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam boas quer sejam más." (II Coríntios 5:10 NVI).
  • O Juiz: "Ó céu anuncia Sua justiça, pois o próprio Deus vai julgar." (Salmos 50:6 BJ).
  • O Promotor de Defesa: "(...) se alguém pecar, temos como advogado, junto do Pai, Jesus Cristo, o Justo." (I João 2:1 BJ).
  • As Testemunhas: "Vede, não desprezeis a qualquer destes pequeninos; porque Eu vos afirmo que os seus anjos nos céus vêem incessantemente a face de Meu Pai celeste." (Mateus 18:10 RA). "(...) milhares de milhares o serviam, e miríades de miríades estavam diante dEle. (...)" (Daniel 7:10 RA).
  • As Provas: "(...) O tribunal iniciou o julgamento, e os livros foram abertos." (Daniel 7:10 NVI).
  • O Promotor de Acusação: "E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo (...) foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus." (Apocalipse 12:9-10 RA).
  • Os Réus: "Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça (...)" (Atos 17:31 NVI). "Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus." (Romanos 3:23 NVI).
A mensagem do primeiro anjo anuncia este acontecimento, e segue alertando a cada "nação, tribo, língua e povo" (Apocalipse 14:6-7).



Texto baseado em: Nisto Cremos. (2003). 7.ª ed., São Paulo: CPB, cap. 23.
Vídeo relacionado: O Santuário e o Conflito
a. Acesse: A Hora do Juízo
b. O início ou inauguração do ministério sumo sacerdotal de Cristo no santuário celestial difere do momento em que Ele iniciou a etapa de purificação do santuário (dia da Expiação).
c. Acesse: O Bode para Azazel
g. A palavra "iniquidade" utilizada em Mateus 7:23, provém do substantivo grego "anomia", que significa: desprezo, violação ou transgressão da lei. Biblicamente, "anomia" é sinônimo de pecado: "Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei [anomia], porque o pecado é a transgressão da lei [anomia]." (I João 3:4 RA).
1. Hebreus 4:14-16; Hebreus 8:1-5; Hebreus 9:11-12; I João 2:1-2.
2. WHITE, E. G. Grande Conflito, O; São Paulo: CPB, sec. III, cap. 24, p. 426.
3. Ibidem, cap. 23, p. 421.
4. WHITE, E. G. História da Redenção, São Paulo: CPB, cap. 53, p. 378.
5. "A tradição judaica durante muito tempo tem retratado o Yom Kippur [dia da Expiação] como dia de julgamento, um dia em que Deus toma assento em Seu trono e julga o mundo. Os livros de registro são abertos, todas as pessoas passam diante dEle, e os destinos são selados." Fonte: SILVERMAN, M. (1951). The Jewish Encyclopedia, Hartford, Conn.: Prayer Book Press, p. 147, 164. "O Yom Kippur traz também conforto e segurança aos crentes, pois é 'o dia em que a temerosa antecipação do julgamento vindouro finalmente cede lugar à confiante afirmação de que Deus não condena, mas perdoará abundantemente aqueles que se volvem a Ele em penitência e humildade'." Fonte: SIMPSON, W. W. (1965). Jewish Prayer and Worship, New York: Seabury Press, p. 57-58.
6. Isaías 1:17-18; Isaías 43:25-26; Ezequiel 33:12-16; Malaquias 3:16-18.
7. WHITE, E. G. Conselhos Sobre Mordomias, São Paulo: CPB, sec. V, cap. 33, p. 162. Too in: Review and Herald, 21 de julho de 1910.
8. WHITE, E. G. Grande Conflito, O; São Paulo: CPB, sec. IV, cap. 28, p. 489-490.


sábado, 19 de outubro de 2013

A Hora do Juízo

Após Satanás persuadir Adão e Eva a aceitar às suas ideologias(a), ele passou a governar este mundo (Mateus 4:8-9Lucas 4:5-6;João 12:31). Então iniciou-se a árdua luta entre o bem e o mal, visto que Deus a partir daquele momento pôs em prática o Seu plano para libertar a humanidade do domínio satânico (Colossenses 1:13-14Apocalipse 11:15 cf. Daniel 7:13-14).

E os capítulos 27 e 8 do livro de Daniel apresentam detalhes históricos e proféticos sobre esse conflito cósmico. Eles descrevem a sucessão de quatro impérios(b), com destaque para o último, que por meio de uma de suas instituições, ainda hoje atua contra a autoridade de Deus e obscurece o ministério intercessório de Jesus(c).

Obviamente que Satanás nunca se manteve indiferente ao observar Deus redimindo Suas cativas criaturas, mas sempre esteve em constante oposição (Efésios 6:11-12Apocalipse 12:10 cf. Isaías 14:12). Seu principal intuito é desviar o pecador da lei de Deus e da intercessão de Jesus que lhe concede o perdão (Apocalipse 12:17I João 2:1-4 cf. II Tessalonicenses 2:7-12). Em contrapartida, Deus jamais permitiu que a Sua lei e o ministério sumo sacerdotal de Jesus fossem completamente obscurecidos pelo mal. Através de homens e mulheres fiéis, Ele vem preservando os seus propósitos (Isaías 58:12cf. Isaías 51:4-5Apocalipse 14:12); e isso pode ser exemplificado pela reforma protestante que resgatou parcialmente o papel de Cristo como nosso Mediador, ocasionando grande reavivamento no mundo cristão. E embora tenha sido um resgate parcial, a Bíblia revela o tempo em que os demais ensinos sobre o sumo sacerdócio de Jesus seriam restabelecidos, preparando assim a raça humana para o julgamento de Deus (Daniel 7:9-10 cf. Eclesiastes 12:13-14Apocalipse 14:6-7).

As 2300 tardes e manhãs

- Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército a fim de serem pisados?
- Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado. (Daniel 8:13-14 RA).

Ao anjo Gabriel foi entregue a missão de explicar os eventos citados no diálogo acima para o profeta Daniel. No entanto, as informações que ele recebeu no transcorrer do capítulo 8 lhe causou enfermidade (Daniel 8:27). E isso motivou Gabriel a interromper os esclarecimentos sobre o período das "2300 tardes e manhãs", a única parte da visão que não havia sido explicada. Todavia, ele retorna com o objetivo de resolver essa questão (Daniel 9:21-23). Portanto, os capítulos 8 e 9 do livro de Daniel estão fortemente conectados, pois o capítulo 9 esclarece o período de tempo descrito no capítulo 8. Porém, é necessário entender o significado da expressão "tarde e manhã":

"[...] E disse Deus: 'Haja luz.' E houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. Houve tarde[d] e manhã[e], o primeiro dia." (Gênesis 1:3-5 RA).

De acordo com a Bíblia, "uma tarde" (noite - trevas) e "uma manhã" (dia - luz) formam o período de "um dia" (tempo compreendido entre um pôr do Sol ao outro). E essa maneira usada por Deus para mencionar o intervalo de "um dia", foi igualmente utilizada na resposta de Daniel 8:14, e na exortação do anjo Gabriel sobre a visão do capítulo 8 (Daniel 8:26). Portanto, as "2300 tardes e manhãs" de Daniel 8:14 referem-se a "2300 dias".

Porém, o capítulos 8 descreve eventos proféticos através de simbolismos, e em casos específicos como esses, "um dia" representa "um ano"(f) (cf. Números 14:34Ezequiel 4:6-7). Logo, os "2300 dias" proféticos equivalem a "2300 anos" literais. E o próprio Gabriel auxilia nessa questão ao afirmar que a transgressão contra o santuário (Daniel 8:13) se estenderia até o "tempo do fim" (até os "dias longínquos", Daniel 8:17-19, 26), o que automaticamente elimina a interpretação de que as "2300 tardes e manhãs" sejam literalmente "2300 dias", visto que estes equivalem a 6 anos e 3 meses, e consequentemente, não atingem o "tempo do fim" (cf.Daniel 12:4-9). Assim sendo, prossigamos com às explicações de Gabriel:

"[...] Daniel, agora, saí para fazer-te entender o sentido. No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a coisa e entende a visão. Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o santo dos santos." (Daniel 9:22-24 RA).

E o que significa essas "setenta semanas"? Existe alguma relação entre elas e os "2300 anos"?

Quando o anjo Gabriel retorna, ele anuncia ao profeta Daniel que transmitiria os esclarecimentos sobre a visão descrita no capítulo 8, pois sem eles, Daniel não a compreenderia (Daniel 8:27). Por isso a exortação: "considera, pois, a coisa e entende a visão" (Daniel 9:23 RA); em outras palavras: "preste atenção à mensagem para entender a visão" (Daniel 9:23 NVI). E Gabriel inicia justamente abordando o fator, tempo: "Setenta semanas estão [...]" (Daniel 9:24).

Outra relação entre as "70 semanas" e os 2300 anos é observada na palavra "chathak" de Daniel 9:24: "Setenta semanas estão determinadas [chathak] sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade [...]". Embora a maioria das traduções bíblicas utilizem a palavra "determinada" ou "decretada" para traduzir o termo hebraico "chathak", o sentido que mais se aproxima dele são os verbos cortardividirrepartirseparar.12 E algumas traduções(g) optaram em usar estes verbos como correspondentes à "chathak", posicionamento defendido também pelo dicionário hebraico-inglês de Genesius.3

Portanto, as "70 semanas" foram separadas dos 2300 anos; e, os seus respectivos eventos, ajudam a esclarecer a pergunta e a resposta de Daniel 8:13-14. E para realizar essa separação de tempo, o mesmo princípio bíblico, "cada dia por um ano" (Números 14:34Ezequiel 4:6-7), deve ser aplicado às "70 semanas". Como uma semana possui 7 dias e a profecia menciona 70 semanas, logo: 70 x 7 = 490 dias (proféticos) ou 490 anos (literais). Assim, 490 anos devem ser subtraídos ou repartidos de 2300 anos:


E em que momento inicia a contagem dos 490 anos?

"Saiba e entenda que, a partir da promulgação do decreto que manda restaurar e reconstruir Jerusalém até que o Ungido, o príncipe, venha, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas. Ela será reconstruída com ruas e muros, mas em tempos difíceis." (Daniel 9:25 NVI).

Segundo o anjo Gabriel, a contagem dos 490 anos tem início a partir da decreto para restaurar e reconstruir Jerusalém. E a Bíblia registra que esse decreto(h) foi dado pelo rei Artaxerxes I, no ano 457 a.C. (Esdras 7:11-26).


O verso de Daniel 9:25 revela ainda que, desde a ordem para recuperar Jerusalém até o Ungido (até o batismo de Jesus Cristo), se passariam "sete semanas" e "sessenta e duas semanas", que somadas totalizam "69 semanas"(i). Então, a partir da contagem inicial das "70 semanas" (490 anos), "69 semanas" transcorreriam até o momento do batismo de Cristo. E em linguagem profética, "69 semanas" equivalem a 483 anos (69 semanas x 7 dias semanais), o que conduz ao ano 27 d.C.(j), data em que se realizou o batismo de Jesus.


Contudo, Daniel 9:25 menciona apenas 69 das 70 semanas proféticas. Resta ainda "uma semana" (7 anos) a ser analisada, pois: "Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares. [...]" (Daniel 9:27 RA).

A profecia afirma que o Ungido, na metade da última semana (três anos e meio - 3½), cessaria o sacrifício, ou seja, Jesus morreria na cruz e não seria mais necessário o sacrifício de animais que Israel realizava no santuário terrestre (Mateus 27:50-51 cf. Hebreus capítulo 9). E a História registra que no ano 31 d.C., Jesus foi morto, confirmando as informações proféticas.


outra metade (três anos e meio 3½) da "última semana" terminou em 34 d.C. Nessa época o diácono Estevão, após testemunhar em favor de Cristo e Seu ministério, foi apedrejado pelos israelitas e seus líderes (Atos 7:51-60 cf. Mateus 23:37). Com essa atitude a nação de Israel encerra o tempo que lhe foi concedido para que retornasse aos caminhos de Deus(l), o que consequentemente a manteria como representante oficial dEle na Terra.4 Assim, finda-se o período de 490 anos: "Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade. [...]" (Daniel 9:24 RA cf. Mateus 18:21-22).

E uma vez que os 490 anos foram separados dos 2300 anos, em que ano seremos encaminhados ao prosseguir na contagem do tempo que restou(m)? Concluiremos que o período dos 2300 anos nos conduz a 1844 d.C., ano em que iniciou-se a purificação do santuário celestial(n) e o julgamento da humanidade.5

Existe ainda um detalhe neste trecho de Daniel 9:24: "para selar a visão e a profecia". A palavra "selar", proveniente do hebraico "chatham", não foi usada no sentido de "encerrar" ou "concluir" todos os eventos listados em Daniel 9:24, mas para indicar que o cumprimento das profecias compreendidas no intervalo das "70 semanas" (490 anos), confirmariam a realização das demais profecias contidas no período dos 2300 anos, visto que: tanto o fim do obscurecimento do ministério sumo sacerdotal de Cristo acarretado pela "transgressão assoladora" (Daniel 8:13), quanto a eliminação do pecado e o restabelecimento da justiça eterna de Deus citados em Daniel 9:24, não se concretizaram com o encerramento dos 490 anos. Essas coisas foram profetizadas respectivamente para o "tempo do fim" (Daniel 8:17-19, 26; Daniel 12:6-9) e, segundo advento de Jesus (Daniel 8:25 cf. II Tessalonicenses 2:7-8II Pedro 3:13). Assim sendo, segue abaixo o resumo dos eventos abrangidos pelas "2300 tardes e manhã":


457 a.C. - Entrega da ordem para reconstruir Jerusalém (Esdras 7:11-26 cf. Esdras 9:8-9).
408 a.C. - Concluída a reconstrução de Jerusalém.
27 d.C. - João batiza Jesus, o Ungido (Mateus 3:13-17 cf. Lucas 3:1-3).
31 d.C. - Ocorre o sacrifício do Ungido. Três anos e meio após o Seu batismo, Jesus foi morto na cruz do Calvário ("na metade da semana, fará cessar o sacrifício", Lucas 23:46 cf. Mateus 27:50-51Daniel 9:27).
34 d.C. - Chega ao fim o período das "70 semanas" (490 anos), ano marcado pelos seguintes acontecimentos: Estevão, à exemplo de outros mensageiros de Deus, foi apedrejado pelo incrédulo povo de Israel (Atos 7:59-60 cf. Lucas 13:34), com isso o título de nação sacerdotal lhe foi retirado (Jeremias 6:16 cf. Atos 7:51-53Mateus 21:42-46); iniciou-se a perseguição à igreja primitiva e a propagação do evangelho entre os gentios (Atos 8:1-3Atos 13:44-52).
1844 d.C. - Inicia a purificação do santuário celestial e o juízo investigativo.6

Considerações finais
Segundo às profecias, foi a partir do ano de 1844 que as ações dos homens passaram a ser definitivamente avaliadas no juízo de Deus, e milhões de pessoas desconhecem ou ignoram essa verdade. Por isso surgi "um anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a Terra, e a toda nação, tribo, língua, e povo, dizendo em grande voz: 'Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora de Seu juízo.' [...]" (Apocalipse 14:6-7 RA). A palavra "anjo", em linguagem profética, significa mensagem ou mensageiro, e a descrição desse anjo voando representa a urgência com que essa mensagem deve ser proclamada.

Infelizmente o juízo é mal compreendido. Muitos confundem o juízo de Deus com os flagelos e catástrofes que acontecerão antes do retorno de Cristo. Os flagelos ou a sentença condenatória não é o juízo. Juízo é o processo pela qual se considera um caso através de um juiz, um advogado, um promotor de acusação, testemunhas e provas.7 E o profeta Daniel descreve o juízo celestial nas seguintes palavras:

"Enquanto eu olhava, tronos foram colocados, e um Ancião Se assentou. Sua veste era branca como a neve; o cabelo era branco como a lã. Seu trono era envolto em fogo, e as rodas do trono estavam em chamas. De diante dEle, saía um rio de fogo. Milhares de milhares o serviam; milhões e milhões estavam diante dEle. O tribunal iniciou o julgamento, e os livros foram abertos." (Daniel 7:9-10 NVI cf. Apocalipse 3:5).



Texto baseado em: Nisto Cremos. (2003). 7.ª ed., São Paulo: CPB, cap. 23.
Vídeos relacionados: O Juízo FinalCremos no Juízo
a. Acesse: No Princípio
b. Impérios: babilônico, medo-persa, grego e romano.
c. Acesse: Roma versus Antíoco Epifânio (no tópico: "O lugar do Seu santuário foi deitado abaixo").
d. A palavra "tarde" vem do hebraico "'ereb", que significa: noite, anoitecer.
e. A palavra "manhã" vem do hebraico "boqer", que significa: amanhecer (alvorecer; raiar o dia).
g. Por exemplo, a versão espanhola, "Sagradas Escrituras" de 1569, apresenta o verbo "cortar" entre parênteses para destacar o sentido mais preciso de "chathak": "Setenta semanas están determinadas (heb. cortadas) sobre tu pueblo y sobre tu Santa Ciudad [...]" (Daniel 9:24 SEV). E a "Darby Version" traz a seguinte tradução: "Seventy weeks are apportioned [repartidas, divididas] out upon thy people and upon thy holy city [...]" (Daniel 9:24 DBY).
h. O livro de Esdras registra três decretos autorizando o retorno dos exilados judeus à Judeia: o primeiro foi emitido por Ciro II, em 537 a.C. (Esdras 1:1-5); o segundo (uma ratificação do primeiro) foi emitido por Dario I, em 520 a.C. (Esdras 6:1-12); e o terceiro foi emitido por Artaxerxes I, em 457 a.C. (Esdras 7:11-24). Porém, os decretos de Ciro II e Dario I centralizaram-se em auxiliar os judeus a reconstruir o templo de Jerusalém, enquanto o decreto de Artaxerxes I estava voltado a: restabelecer a autonomia administrativa do Estado de Israel (Esdras 7:25-26); recompor a estrutura física de Jerusalém (cf. Esdras 9:8-9); e, fornecer recursos para a manutenção do templo (Esdras 7:27-28 cf. Esdras 6:14-15). Posteriormente, Artaxerxes I, em 444 a.C., atende a um pedido de Neemias e entrega-lhe algumas cartas (não eram decretos, mas salvos-condutos) para que ele pudesse transitar livremente até chegar em Judá, pois os judeus tinham muitos inimigos ao longo do território medo-persa (Neemias 2:7 cf. Esdras 8:21-23). E entre essas cartas havia uma em especial que lhe permitia obter madeira das florestas do império medo-persa. E essa madeira foi utilizada para: confeccionar as portas da cidadela que protegia o templo; reconstruir as portas dos muros de Jerusalém; e, reformar ou construir à sua residência. Essa ajuda adicional conseguida por Neemias reanimou os judeus a continuar à obra de restauração de Jerusalém, sobretudo os muros que estavam em péssimas condições (Neemias 2:8 cf. Neemias 2:13-18). Portanto, o decreto de Artaxerxes I, outorgado em 457 a.C., é o ponto inicial para a contagem dos 2300 anos. Ademais, as datas de promulgação dos outros decretos, assim como a data das cartas obtidas por Neemias, não coincidem com a cronologia dos eventos citados em Daniel 9:25-27.
i. "Sete semanas" equivalem a 49 anos, tempo gasto para restaurar Jerusalém. E, "sessenta e duas semanas" (434 anos), refere-se ao tempo compreendido entre a conclusão da reedificação de Jerusalém (408 a.C.) e o batismo de Jesus (27 d.C.).
j. O evangelho de Lucas registra que Jesus tinha, aproximadamente, 30 anos quando foi batizado (Lucas 3:21-23); evento que ocorreu no 15.º ano do reinado de Tibério César (Lucas 3:1-3). Então, por que no presente estudo consta a data 27 d.C.? Isso ocorre porque a cronologia da chamada, "Era Cristã", que divide o tempo em "a.C." (antes de Cristo) e "d.C." (depois de Cristo), não representa fielmente a cronologia bíblica. O monge Dionysius Exiguus ao criar a escala de tempo da "era cristã", a pedido do Papa John I, escolheu a data do nascimento de Jesus para ser a base de seus cálculos (o ponto de referência), porém, ele errou a data do nascimento entre 3 a 4 anos. Por conseguinte, à sua contagem de tempo esta descompassada em relação aos eventos bíblicos. Por exemplo, a Bíblia relata que Herodes tentou matar Jesus logo após o Seu nascimento (Mateus 2:13-23), e de acordo com a cronologia elaborada por Dionysius, o rei Herodes morreu em 4 a.C., ou seja, ele morreu aproximadamente quatro anos antes de Jesus nascer; fato que não procede segundo a História ("Dionysius Exiguus". (2010). Encyclopædia Britannica. Chicago: Encyclopædia Britannica; MOSSHAMMER, A. A. (2008). The Easter Computus and the Origins of the Christian Era, New York, NY: Oxford University Press, chap. 15, p. 344).
l. Jesus sabendo que restavam apenas três anos e meio para o povo de Israel, orientou os Seus discípulos dizendo: "Não se dirijam aos gentios, nem entrem em cidade alguma dos samaritanos. Antes, dirijam-se às ovelhas perdidas de Israel. Por onde forem, preguem esta mensagem: 'O Reino dos céus está próximo'." (Mateus 10:5-7 NVI).
m. Na cronologia da "era cristã", não existe o "ano zero", tem-se o ano 1 a.C. e em seguida 1 d.C.
n. A purificação do santuário celestial deve ser compreendida à semelhança do que ocorria no santuário terrestre no dia da Expiação. Acesse: O Tribunal Celestial.
1. STRONG, J. (1981). The Exhaustive Concordance of the Bible, ed. Macdonald Publishing Company, ref. 02852.
2. SHEA, W. H. The Relationship Between the Prophecies of Daniel 8 and 9. In: WALLENKAMPF, A.; LESHER, W. R. (1981). The Sanctuary and the Atonement. Washington, D.C.: Biblical Research Institute, p. 228-250.
3. TREGELLES, S. P. (1857). Gesenius's Hebrew and Chaldee Lexicon: Old Testament Scripture, Paternoster Row, London: Samuel Bagster & Sons, p. 314b; (Gesenius Wilhelm foi um renomado estudioso do hebraico e de outros idiomas semitas. Após à sua formação nas Universidades de Helmstedt e Göttingen, ele iniciou o magistério na Universidade de Halle. A sua gramática, "Hebrew", e o seu dicionário, "Hebrew and Chaldee", possuem diversas edições e traduções. Gesenius também lançou os fundamentos da epigrafia semita ao decifrar inscrições fenícias conhecidas em sua época).
4. Êxodo 19:5-6; Romanos 3:2; Jeremias 2:13; Jeremias 6:16; Jeremias 18:15-16; Mateus 21:42-46.
5. Daniel 7:9-10 cf. Eclesiastes 12:13-14, Tiago 2:12 cf. Apocalipse 11:19, Hebreus 8:1-2; Atos 17:30-31 cf. Apocalipse 14:6-7.
6. Daniel 8:14 cf. Hebreus 9:23-24; Apocalipse 14:7 cf. I Pedro 4:17.
7. BULLON, A. (1998). O Terceiro Milênio e as Profecias do Apocalipse, 1.ª ed., São Paulo: CPB, p. 29.