sábado, 29 de novembro de 2014

Arcanjo Miguel

Quando informações bíblicas sobre o arcanjo Miguel são confrontadas com as de Jesus, chega-se a conclusão que ambos são o mesmo Ser. Nas Escrituras, Miguel é sempre citado protegendo o povo de Deus e guerreando diretamente contra Satanás:
"Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu durante vinte e um dias. Então Miguel, um dos príncipes supremos, veio em minha ajuda [...]. E nessa luta ninguém me ajuda contra eles, senão Miguel, o príncipe de vocês." (Daniel 10:13, 21 NVI).
"Naquela ocasião Miguel, o grande príncipe que protege o Seu povo, Se levantará. Haverá um tempo de angústia como nunca houve desde o início das nações até então. Mas naquela ocasião o Seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto." (Daniel 12:1NVI cf. Apocalipse 21:27).
"Houve então uma guerra nos céus. Miguel e Seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram." (Apocalipse 12:7 NVI).
Os primeiros versos acima revelam a dificuldade do anjo Gabriel em sua disputa contra o "príncipe do reino da Pérsia" (Satanás, cf. João 12:31João 14:29-31), que persuadia os reis desta nação a atuarem contra os interesses do povo de Israel. E após 21 dias de conflito, Gabriel recebe auxílio de Miguel e finalmente obtém vitória sobre ele. Em Daniel 12:1, o arcanjo Miguel é novamente citado atuando como defensor dos filhos de Deus, porém o relato alcança proporção global, pois anuncia o mundo passando por uma turbulência sem precedentes; e, de acordo com a Bíblia, unicamente Jesus é mencionado como o salvador (defensor) do povo de Deus (I João 2:1Romanos 8:34Atos 4:12). Observa-se ainda que, além de ser apontado como um dos "príncipes supremos" (Daniel 10:13), o arcanjo Miguel é destacado entre eles como o "grande príncipe" (Daniel 12:1). E este nobre título é atribuído a Jesus nas seguintes palavras:
"[...] do decreto que manda restaurar e reconstruir Jerusalém até que o Ungido, o príncipe, venha, haverá sete semanas [...]"(a) (Daniel 9:25-26 NVI).
"[...] E Ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz." (Isaías 9:6 NVI).
"Deus, porém, com a Sua destra, O exaltou a príncipe e salvador [...]" (Atos 5:31 NVI cf. Atos 10:38).
E nenhum dos anjos (criaturas de Deus, João 1:1-3 cf. Jó 38:4-7) foi ungido para ser príncipe e salvador da humanidade, nenhum deles foi designado para desvencilhar o homem de sua condição pecaminosa e da opressão de Satanás (João 1:39 cf. Apocalipse 13:8Atos 16:18). Em momento algum as Escrituras indicam uma criatura angelical no Céu atuando como senhor e salvador de um povo na Terra, paralelamente a Cristo.

Em Apocalipse 12:7 é dito que houve guerra no Céu e que, Miguel e Seus anjos lutaram(b) contra o dragão e sua hoste de anjos. E na narrativa bíblica esta batalha, entre o "bem e o mal", é respectivamente comandada por Cristo (I João 3:8Lucas 4:41) e Satanás (Apocalipse 12:9). O conflito no Céu iniciou quando Lúcifer buscou se tornar igual a Deus (Isaías 14:12-14Ezequiel 28:13-19), então, Miguel (nome que literalmente questiona: "Quem é semelhante a Deus"?), interveio desafiando-o. A epístola de Judas também traz um episódio desse confronto cósmico:
"Contudo, nem mesmo o arcanjo Miguel, quando estava disputando com o Diabo acerca do corpo de Moisés, ousou fazer acusação injuriosa contra ele, mas disse: 'O Senhor o repreenda!'" (Judas 1:9 NVI).
"Satanás disputou veementemente pelo corpo de Moisés. Procurou entrar outra vez em controvérsia com Cristo a respeito da injustiça da lei de Deus e, com poder enganador, reiterou suas falsas declarações sobre não ter sido tratado com justiça. Suas acusações foram tais, que Cristo não o confrontou com o registro cruel da obra que havia realizado no Céu mediante enganadoras deturpações, com as falsidades que havia proferido no Éden para levar à transgressão de Adão, e por ter suscitado as piores paixões das hostes de Israel, incitando-as a murmurar e rebelar-se, até que Moisés perdesse o controle de si próprio.

[...] Cristo não fez retaliações em resposta a Satanás. Não lhe fez zangadas acusações, mas ressuscitou Moisés e o levou para o Céu. [...] Fizera-se a pergunta: 'Morrendo o homem, porventura tornará a viver?' (Jó 14:14 KJV). Agora a pergunta tinha resposta. Esse ato foi uma grande vitória sobre os poderes das trevas. Essa demonstração de poder foi um testemunho incontestável da supremacia do Filho de Deus. Satanás não esperava que o corpo fosse despertado para a vida depois da morte. Havia concluído que a sentença: 'tu és pó e ao pó tornarás', lhe daria posse indiscutível dos corpos dos mortos. Agora via que seria despojado de sua presa, que os mortais viveriam outra vez após a morte."1

Ainda sobre a ressurreição, especificamente sobre àquela que ocorrerá no segundo advento de Jesus, o apóstolo Paulo faz igualmente referência ao arcanjo Miguel:
"Pois, dada a ordem, com a voz do Arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro." (I Tessalonicenses 4:16 NVI).
Esta declaração reforça o entendimento de que Miguel é o próprio Jesus Cristo, pois a preposição "com", em I Tessalonicenses 4:16, provém do grego "en", que significa: "na"; "em"; "por"; "enquanto que". Isso indica que Jesus retornará e Se apresentará "na voz de arcanjo", "pela voz de arcanjo", "com a voz de arcanjo", ou seja, será este o aspecto da voz de Jesus quando Ele ressurgir para levar os redimidos (I Tessalonicenses 4:17 cf. João 5:28-29Atos 1:9-11). Não será a voz de um outro ser celestial que anunciará o Seu retorno e ressuscitará aqueles que herdarão a vida eterna (Apocalipse 20:4-6 cf. João 5:21).

O Anjo do Senhor
Uma das dificuldades que muitos encontram para aceitar que Jesus é o arcanjo Miguel, esta na Sua manifestação em forma de arcanjo para auxiliar o Seu povo. Contudo, este preconceito não deveria existir, pois há registros na Bíblia que demonstram Jesus assumindo, também, a forma de um anjo (categoria angelical abaixo de um arcanjo). E uma dessas ocasiões foi relatada pelo profeta Zacarias, que em visão, acompanhou o Anjo do Senhor defendendo o sumo sacerdote Josué das investidas de Satanás:
"Depois disso Ele me mostrou o sumo sacerdote Josué diante do Anjo do Senhor, e Satanás, à sua direita, para acusá-lo. O Anjo do Senhor disse a Satanás: 'O Senhor o repreenda, Satanás! O Senhor que escolheu Jerusalém o repreenda! Este homem não parece um tição tirado do fogo?' Ora, Josué, vestido de roupas impuras, estava em pé diante do Anjo. O Anjo disse aos que estavam diante dele: 'Tirem as roupas impuras dele'. Depois disse a Josué: 'Veja, Eu tirei de você o seu pecado, e coloquei vestes nobres sobre você'." (Zacarias 3:1-4 NVI).
O Anjo do Senhor ao dizer: "Eu tirei de você o seu pecado, e coloquei vestes nobres sobre você", não estava tratando meramente das roupas que Josué usava naquele momento, visto que o regimento levítico já determinava que ele fizesse obrigatoriamente a devida mudança de vestimenta para exercer a sua função sacerdotal (Êxodo 28:41-43Levítico 16:23-24). Satanás surgiu para apontar o pecado de Josué (para acusá-lo, verso 1), e assim, interromper o seu trabalho no santuário (cf. I Pedro 5:8-9Apocalipse 12:10); o intuito era evitar que Israel voltasse a Deus e obtivesse o Seu perdão (Zacarias 1:3-4Zacarias 3:7-10). Então, o Anjo do Senhor interveio repreendo Satanás e subvertendo o pecado de Josué. E, segundo a Bíblia, um simples anjo não possui autoridade para eliminar pecado (I João 1:7-9 cf. Marcos 2:7).

O mesmo Anjo contemplado por Zacarias é apresentado pelo apóstolo João com várias características pertencentes a Jesus: "Então vi outro Anjo poderoso, que descia dos céus. Ele estava envolto numa nuvem, e havia um arco-íris acima de Sua cabeça. Sua face era como o Sol, e Suas pernas eram como colunas de fogo. [...] e deu um alto brado, como o rugido de um leão. [...]" (Apocalipse 10:1-3 NVI). Com base nestes versos, segue abaixo o comparativo entre o referido Anjo e Jesus:

1. O Anjo foi visto descendo do Céu envolto por uma nuvem, e as aparições de Jesus são comumente descritas nela(s):
"[...] quando notei, vindo sobre as nuvens do céu, um como filho de homem. [...]" (Daniel 7:13 BJ).
"Eis que Ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que O traspassaram. [...]" (Apocalipse 1:7 NVI).
"Olhei, e diante de mim estava uma nuvem branca e, assentado sobre a nuvem, Alguém semelhante a um filho de homem. [...]" (Apocalipse 14:14 NVI).
"[...] seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. [...]" (I Tessalonicenses 4:17 NVI).
2. O rosto desse Anjo brilhava como o Sol, e sobre Sua cabeça havia um arco-íris. E estas coisas são peculiares a Jesus:
"[...] Sua face era como o Sol, quando brilha com todo seu esplendor." (Apocalipse 1:16 BJ).
"[...] Sua face brilhou como o Sol, e Suas roupas se tornaram brancas como a luz." (Mateus 17:2 NVI).
"[...] vi uma luz do céu, mais resplandecente que o Sol [...]. Então perguntei: Quem és tu, senhor? Respondeu o Senhor: 'Sou Jesus, a quem você está perseguindo'." (Atos 26:13-15 NVI).
"[...] um arco-íris envolvia o trono com reflexos de esmeralda." (Apocalipse 4:2-3 BJ cf. Apocalipse 4:9-11Marcos 14:62).
"Acima da abóbada sobre as suas cabeças havia o que parecia um trono de safira e, bem no alto, sobre o trono, havia uma figura que parecia um homem. [...] Tal como a aparência do arco-íris nas nuvens de um dia chuvoso, assim era o resplendor ao Seu redor. Essa era a aparência da figura da glória do Senhor. [...]" (Ezequiel 1:26-28 NVI).
3. Os pés e as pernas desse Anjo era como "colunas de fogo", característica vista em Jesus:
"Os pés tinham o aspecto do bronze quando está incandescente no forno [...]" (Apocalipse 1:15 BJ cf. Ezequiel 1:27).
"[...] Estas são as palavras do Filho de Deus, cujos olhos são como chama de fogo e os pés como bronze reluzente." (Apocalipse 2:18 NVI).
4. Outra peculiaridade do Anjo visto por João é a Sua voz, que foi comparada à de um leão. E esta qualidade pertence a Jesus:
"Eles seguirão o Senhor; Ele rugirá como leão. Quando Ele rugir, os Seus filhos virão tremendo desde o ocidente." (Oséias 11:10 NVI cf. Oséias 5:14).
"[...] 'Não chore! Eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos'." (Apocalipse 5:5 NVI).
Um detalhe mal compreendido que proporciona a rejeição do Anjo de Apocalipse capítulo 10 como sendo Jesus, consiste no Seu juramento (Apocalipse 10:5-6). Na Antiguidade, certos juramentos eram realizados levantando solenemente a mão direita para o céu; e o Anjo de Apocalipse capítulo 10 ao proceder desta maneira, "jurou por Aquele que vive para todo o sempre".2

O fato do Anjo em questão ter jurado por "Aquele que vive eternamente", isto é, por Deus, não elimina a interpretação de que Ele seja o próprio Jesus, pois tal ato ocorreu à semelhança da seguinte ocasião: "Quando Deus fez a Sua promessa a Abraão, por não haver ninguém superior por quem jurar, jurou por Si mesmo." (Hebreus 6:13 NVI). Além disso, Jesus afirmou que Ele sempre existiu e viverá para sempre (Apocalipse 1:17-18Apocalipse 22:13 cf. João 1:1-3). Portanto, a garantia que Deus atribuiu a Si mesmo durante o Seu juramento em Hebreus 6:13, auxilia a compreender tanto o juramento em Apocalipse 10:5-6, quanto às repreensões em Zacarias 3:2 e Judas 1:9.

Comandante do exército celestial
Outro acontecimento que demonstra não haver qualquer empecilho para Jesus adotar a aparência de um ser angelical, é o fato dEle ter assumido a forma de um homem (que está numa categoria inferior a de um anjo), ter apresentado-Se como o "príncipe do exército do Senhor" (príncipe das hostes angelicais do Céu) e, posteriormente, ter aceitado a adoração de Josué:
"Estando Josué já perto de Jericó, olhou para cima e viu um Homem em pé, empunhando uma espada. Aproximou-se dEle e perguntou-Lhe: 'Você é por nós, ou por nossos inimigos?' 'Nem uma coisa nem outra', respondeu Ele. 'Venho na qualidade de comandante do exército do Senhor.' Então Josué prostrou-se com o rosto em terra, em sinal de respeito, e Lhe perguntou: 'Que mensagem o meu Senhor tem para o seu servo?' O comandante do exército do Senhor respondeu: 'Tire as sandálias dos pés, pois o lugar em que você está é santo'. E Josué as tirou." (Josué 5:13-15 NVI).
A palavra "respeito"(c) (verso 14), provém do hebraico "shachah", que significa: inclinar em veneração; curvar em reverência. Essa adoração de Josué violaria diretamente a lei (Êxodo 20:3), se o "Homem" citado em Josué 5:13 fosse uma criatura de Deus (Mateus 4:10Hebreus 1:6Apocalipse 22:8-9). Ademais, Josué ao ser orientado a retirar às suas sandálias, pois o lugar tinha tornado-se santo, repetiu o mesmo procedimento de Moisés diante da "sarça ardente", na qual Deus havia Se manifestado (Êxodo 3:1-6Atos 7:30-33). E de forma alguma a santidade e o respeito relatados ocorrem com um ser criado.

E para finalizar, um comparativo entre a maneira como o Anjo do Senhor (o próprio Deus na "sarça ardente", Êxodo 3:2-4) orientou Moisés a apresentá-Lo diante do povo de Israel e, a maneira como Jesus Se declarou para os judeus:
"Disse Deus a Moisés: 'Eu Sou o que Sou. É isto que você dirá aos israelitas: Eu Sou me enviou a vocês'. Disse também Deus a Moisés: 'Diga aos israelitas: O Senhor, o Deus dos seus ante­passados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó, enviou-me a vocês. Esse é o Meu nome para sempre, nome pelo qual serei lembrado de geração em geração'." (Êxodo 3:14-15 NVI).
"Disseram-lhe os judeus: 'Você ainda não tem cinquenta anos, e viu Abraão?' Respondeu Jesus: 'Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou!'." (João 8:57-58 NVI).
Considerações Finais
Após a análise comparativa das referências bíblicas expostas neste estudo, chega-se a conclusão que o arcanjo Miguel não é um ser angelical designado dentre as "miríades de miríades" de anjos existentes para liderar o exército de Deus contra Satanás e seus seguidores. Mas, certamente, o arcanjo Miguel é o próprio Jesus Cristo que, a frente dos Seus anjos, luta em favor do governo de Deus e de Seu povo. A atuação de Jesus na forma de um arcanjo não contradiz ou desmerece Sua obra como salvador e redentor da humanidade, de modo algum desqualifica-O como o Cordeiro de Deus.

Ainda sobre este tema, deve-se ter em mente que Jesus possui diversos títulos e nomes, tais como: Pai da Eternidade, Conselheiro, Príncipe da Paz (Isaías 9:6); Emanuel (Mateus 1:23); Filho do Homem (Marcos 14:62); Verbo (João 1:1-3); Cordeiro de Deus (João 1:29); Rabi (João 1:38); Messias (João 1:41-42); Filho de Deus (Hebreus 4:14). E na nova Terra, Ele usará o Seu novo nome (Apocalipse 3:12).


a. Acesse: A Hora do Juízo
b. Não é uma luta bélica, mas uma luta ideológica. Nessa guerra os princípios de vida ensinados por Deus (Apocalipse 14:12), e aqueles que são contrários a eles (promovidos por Satanás, Apocalipse 12:17), estão em intenso conflito. Essas duas forças antagônicas estão em constante ataque e defesa (Efésios 6:11-18; II Coríntios 10:2-5; Apocalipse 12:7). Os anjos possuem uma natureza que difere grandemente da natureza humana, e somente Deus pode destruí-los (Lucas 20:35-36).
c. Outras traduções bíblicas utilizam o verbo "adorar", tais como: João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada (1999); Bíblia de Jerusalém (1985); Reina Valera (1960); e, Sagradas Escrituras (1569).
1. Ellen Gould White, Manuscrito 69, 1912. In: Manuscript Releases, vol. 10, p. 159-160.
2. Gênesis 14:22-23; Deuteronômio 32:40; Ezequiel 20:15; Apocalipse 10:6.

sábado, 22 de novembro de 2014

Inferno: Fogo Extinguível - II

"[...] Malditos, apartem-se de Mim para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos. [...] E estes irão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna." (Mateus 25:41, 46 NVI).
A palavra "eterno(a)" usada nos versos acima origina-se do adjetivo grego "aionios", que significa: sem começo e fim; que sempre existiu; que não cessa. Embora gramaticalmente o adjetivo caracterize o substantivo ligado a ele, o termo "aionios" não procede obrigatoriamente caracterizando qualquer substantivo como sendo "infinito", pois esta qualidade depende de circunstâncias e da própria natureza do substantivo.

Fogo eterno
A explanação inicial ocorre com o substantivo "fogo", que permanece atuante enquanto aquilo que lhe serve de combustível não finda. Mesmo que haja situações impossíveis de determinar o tempo de duração do fogo, é certo que ocorrerá a sua extinção, pois ele depende de fatores externos limitados (finitos) para permanecer ativo. Isso pode ser exemplificado através de Judas 1:7 que também utiliza o adjetivo "aionios":
"De modo semelhante, Sodoma, Gomorra e as cidades vizinhas, por se terem prostituído, procurando unir-se a seres de uma natureza diferente, foram postas como exemplo, ficando sujeitas ao castigo de um fogo eterno [aionios]." (BJ).
Estas cidades, submetidas ao fogo "eterno", continuam queimando infinitamente? É óbvio que não. Elas foram reduzidas a cinzas e tornaram-se exemplos do resultado final do pecado (II Pedro 2:6); e cinzas não favorecem a permanência de fogo.

Outro exemplo: "Eles sofrerão a pena de destruição eterna [aionios], a separação da presença do Senhor e da majestade do Seu poder." (II Tessalonicenses 1:9 NVI). Destruição é a ação ou, o resultado de arruinar, eliminar, exterminar algo ou alguém. Seria possível para o ser humano, que não possui natureza imortal(a), passar por um processo punitivo de destruição "eterna" e nunca ser aniquilado?
"[...] Quem de nós pode conviver com o fogo consumidor? Quem de nós pode conviver com a chama eterna?" "Pois certamente vem o dia, ardente como uma fornalha. Todos os arrogantes e todos os malfeitores serão como palha, e aquele dia, que está chegando, ateará fogo neles, diz o Senhor dos Exércitos. Não sobrará raiz ou galho algum." (Isaías 33:14 NVI;Malaquias 4:1 NVI cf. Deuteronômio 29:23).
"Pela mesma palavra os céus e a Terra que agora existem estão reservados para o fogo, guardados para o dia do juízo e para a destruição dos ímpios. [...] Os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a Terra, e tudo o que nela há, será desnudada. [...]. Naquele dia os céus serão desfeitos pelo fogo, e os elementos se derreterão pelo calor." (II Pedro 3:7-12 NVI).
A destruição é eterna porque não haverá mais possibilidade de restauração ou ressurreição de vida para os ímpios (Apocalipse 20:11-15). É neste sentido que a expressão "fogo eterno" é aplicada em Mateus 25:41. Haverá completo aniquilamento do mal e sem chance alguma de seu retorno. O fogo citado em Mateus 25:41 não permanecerá pela eternidade, mas cessará quando tudo o que for submetido a ele, deixar de existir. Esta análise conduz ainda ao seguinte detalhe: a Terra será recriada, tudo será refeito por Deus.1 Então, como poderia a nova Terra ser estabelecida se a antiga permanecesse queimando por um fogo que nunca se apaga?

Castigo eterno
O "castigo eterno" refere-se a punição derradeira que os ímpios receberão, a saber: o sofrimento proporcional as obras pecaminosas que praticaram (Apocalipse 20:12Apocalipse 22:12-15Salmos 11:6) e, a subsequente morte eterna (João 11:25-26Romanos 6:23Apocalipse 21:8). Satanás, seus anjos e os ímpios nunca mais existirão após serem consumidos pelo fogo (Ezequiel 28:13-19Naum 1:6II Tessalonicenses 1:6-10).

A ideia de um castigo infinito contraria a intenção principal do próprio castigo que é a morte, pois o indivíduo teria que permanecer vivo para que pudesse sofrer eternamente, e assim, jamais receberia a recompensa final de seus pecados que é morte eterna: "a alma que pecar, essa morrerá", "porque o salário do pecado é a morte" (Ezequiel 18:4Romanos 6:23). João, sem deixar margem para qualquer dúvida, declara que:
"Quanto aos covardes, porém, e aos infiéis, aos corruptos, aos assassinos, aos impudicos, aos mágicos, aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua porção se encontra no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte." (Apocalipse 21:8 BJ).
A ideia de um castigo infinito, além de contraditória, atribui um caráter perverso a Deus e contesta as Suas próprias palavras: "Teria Eu algum prazer na morte do ímpio? [...]. Ao contrário, acaso não Me agrada vê-lo desviar-se dos seus caminhos e viver?" (Ezequiel 18:23 NVI). "[...] não tenho prazer na morte dos ímpios, antes tenho prazer em que eles se desviem dos seus caminhos e vivam." (Ezequiel 33:11 NVI cf. Jonas 1:2Jonas capítulo 3). Deus não tem satisfação alguma em ver os pecadores sendo condenados à morte por causa de seus pecados, e tampouco teria algum deleite em proporcionar o fictício e repugnante castigo (sofrimento) eterno a eles(b). Apesar destes esclarecimentos escriturísticos, os imortalistas se esforçam para sustentar o mito de uma punição infindável mediante a errônea interpretação dos seguintes textos:
"O Diabo que os seduzira foi então lançado no lago de fogo e de enxofre, onde já se achavam a besta e o falso profeta. E serão atormentados dia e noite, pelos séculos dos séculos." (Apocalipse 20:10 BJ). "A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos [...]" (Apocalipse 14:11 BJ).
Estes versos não ensinam que o tormento e a fumaça decorrentes do "lago de fogo e enxofre" durarão "pelos séculos dos séculos" ou "para todo o sempre"(c) pelos seguintes motivos: Satanás e seus súditos serão completamente exterminados, serão transformados em fumaça e cinzas,2 eles jamais subsistirão (Ezequiel 28:13-19Obadias 1:15-16). A fumaça(d) é um dos produtos finais da matéria degradada pelo calor, ela cessa de ser formada quando a matéria que a origina transforma-se completamente em cinzas (pó). Para que a fumaça pudesse subir "pelos séculos dos séculos", os ímpios teriam que ser submetidos a um processo de degradação e recomposição infinito. E as criaturas não possuem a propriedade de regenerar-se em condições extremas, tais como num lago de fogo e enxofre; isso teria que ser proporcionado pelo "deus" pagão que os imortalistas acreditam, um indivíduo cruel e sem misericórdia que concede deliberadamente dor e angústia pela eternidade; muitíssimo diferente do Deus Criador de justiça e compaixão ensinado pelas Escrituras. O texto de Isaías 34:8-10 auxilia a esclarecer este assunto ao descrever um evento similar:
"Pois o Senhor terá Seu dia de vingança, um ano de retribuição, para defender a causa de Sião. Os riachos de Edom se transformarão em piche, em enxofre, o seu pó; sua terra se tornará betume ardente! Não se apagará de dia nem de noite; sua fumaça subirá para sempre. De geração em geração ficará abandonada; ninguém voltará a passar por ela." (NVI).
O profeta Isaías não contemplou um fogo interminável, pois na mesma visão, lhe é mostrado os resultados do fogo sobre o povo de Edom: "" e "fumaça", produtos finais da completa destruição. E após essa cena de desolação, Isaías observou vegetação e animais selvagens habitando aquela terra (versos 11-15). Deste modo, pergunta-se: O fogo de Edom continua ativo "dia e noite"? A fumaça continua a subir "para sempre"? Onde estão os edomitas e seus pertences?

Para estas perguntas, a Bíblia apresenta respostas indiscutíveis: "Olhei, e a terra fértil era um deserto; todas as suas cidades estavam em ruína por causa do Senhor, por causa do fogo da Sua ira." (Jeremias 4:26 NVI). "Que Tu os dissipes assim como o vento leva a fumaça; como a cera se derrete na presença do fogo, assim pereçam os ímpios na presença de Deus." (Salmos 68:2NVI).

Da mesma forma que ocorreu com os edomitas, ocorrerá com aqueles que são citados em Apocalipses 20:10 e Apocalipse 14:11, serão transformados em pó e fumaça. Nestas referências, a expressão "pelos séculos dos séculos" não revela um tormento eterno mas um aniquilamento total, definitivo e irreversível para "todo o sempre".

Vida eterna
"Que teremos que morrer um dia, é tão certo como não se pode recolher a água que se espalhou pela terra. Mas Deus não tira a vida; ao contrário, cria meios para que o banido não permaneça afastado dEle." (II Samuel 14:14 NVI). "Multidões que dormem no pó da terra acordarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha, para o desprezo eterno." (Daniel 12:2 NVI). "Pois, da mesma forma que o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, o Filho também  vida a quem Ele quer." (João 5:21 NVI).
Nenhuma criatura possui em si mesmo imortalidade (Gênesis 2:7Jó 33:4Salmos 49:15), somente Deus detém a natureza imortal (Isaías 40:28I Timóteo 1:17I Timóteo 6:13-16); a vida de todos procede e depende unicamente dEle (Jó 12:10 cf. Êxodo 20:11).

As características inerentes a Deus mencionadas na Bíblia são em essência infindáveis em qualquer circunstância. Portanto, quando o adjetivo "aionios" é aplicado a Ele, ou, vinculado a algo que emana dEle, tal adjetivo sempre indicará perpetuidade no mais elevado sentido. Os próprios elementos, "fogo eterno" e "castigo eterno", que foram analisados a partir de Mateus 25:41 e 46 dependem diretamente da presença de vida, que por sua vez é originada de Deus e, não será mantida naqueles que serão submetidos ao lago de fogo e enxofre (Apocalipse 21:8).

Os conceitos pagãos de "fogo eterno" e "castigo eterno" são absurdamente contrários aos ensinos das Sagradas Escrituras, Deus não manterá após a sentença de Seu juízo, qualquer vestígio do mal no Universo. "Depois de ter Deus feito tudo que devia fazer para salvar os homens, se eles demonstrarem pela vida que menosprezam a misericórdia oferecida, a morte será a porção deles; e será uma terrível morte, pois terão que sentir a agonia que Cristo sentiu na cruz. Então compreenderão o que perderam, a vida eterna e herança imortal."3


a. Atributo pertencente unicamente a Deus, e que será concedido aos redimidos no segundo advento de Jesus (I Timóteo 1:17; I Timóteo 6:13-16; Romanos 2:5-8). Para maiores esclarecimentos acesse: Mortalidade da Alma.
c. As expressões "pelos séculos dos séculos" ou "todo o sempre" proveem do radical grego "aion", que significa: tempo perpétuo, ininterrupto; tempo de uma vida; tempo de uma geração, de um determinado século; tempo longínquo do passado; tempo deste mundo; em determinadas situações pode indicar o universo (infinito). O termo "aion", assim como a sua derivação "aionios", não caracteriza obrigatoriamente como perpétuo ou infinito as classes gramaticais ligadas a ele, tal como a classe dos substantivos demonstrado no início deste estudo. A palavra "aion" pode ser aplicada com vários sentidos, por exemplo: "[...] não, porém, a sabedoria deste século [aion], nem a dos poderosos desta época [aion], que se reduzem a nada." (I Coríntios 2:6); "[...] desde aantiguidade [aion], por boca dos seus santos profetas." (Lucas 1:70); "[...] contra os dominadores deste mundo [aion] tenebroso [...]" (Efésios 6:12); "pela fé, entendemos que foi o universo [aion] formado pela palavra de Deus." (Hebreus 11:3).
d. Quimicamente, a fumaça é formada por compostos gasosos provenientes da matéria submetida à sua temperatura de ebulição ou, de sublimação.
1. Isaías 65:17; Isaías 66:22; II Pedro 3:7-13; Apocalipse 21:1.
2. Ezequiel 28:13-19; Naum 1:6; João 11:25-26; Romanos 6:23; II Tessalonicenses 1:6-10; Apocalipse 21:8.
3. Ellen Gould White, Review and Herald, august 5, 1884.

sábado, 15 de novembro de 2014

Inferno: Fogo Extinguível - I

Embora a doutrina sobre o castigo vindouro que aniquilará o pecado definitivamente(a) seja bíblica, ela foi desvirtuada por filosofias humanas e posteriormente associada à palavra "inferno", que por sua vez não deveria ter sido utilizada nas traduções bíblicas. A palavra "inferno" é originada do latim "infernum", e alude a um fictício lugar nas profundezas da Terra, onde "almas"(b)perdidas são encaminhadas e submetidas aos infindáveis castigos de demônios. Tanto o vocábulo "infernum" quanto o ensino que ele transmite são totalmente desconhecidos nos textos originais que compõem as Escrituras Sagradas.

Haverá uma punição final destinada aos pecadores que não se arrependeram de suas atitudes maléficas, porém, não há semelhança alguma com as ideias pagãs representadas pela palavra "inferno", que infelizmente tem sido usada para substituir as palavras "sheol", "hades", "geenna" e "tartaroo" presentes nas fontes bíblicas originais (escritas em hebraico, aramaico e grego). Estas substituições vêm proporcionando gravíssimos erros doutrinários.

Sheol
A palavra hebraica "sheol", significa: sepultura, cova, túmulo, morada dos mortos (pó da terra), profundeza, escuridão, morte; figurativamente representa a extinção total. Enquanto algumas versões bíblicas utilizam indevidamente a palavra latina "inferno" no lugar de "sheol", outras, como a Nova Versão Internacional (NVI), mantêm a tradução vinculada diretamente ao texto original:
"Pois um fogo foi aceso pela Minha ira, fogo que queimará até as profundezas do sheol. [...]" (Deuteronômio 32:22).
"Voltem os ímpios ao  [sheol], todas as nações que se esquecem de Deus!" (Salmos 9:17).
"As cordas da morte me envolveram, as angústias do sheol vieram sobre mim. [...]" (Salmos 116:3).
"Os seus pés descem para a morte; os seus passos conduzem diretamente para a sepultura [sheol]." (Provérbios 5:5).
"[...] os seus convidados estão nas profundezas da sepultura [sheol]." (Provérbios 9:18).
"O caminho da vida conduz para cima quem é sensato, para que ele não desça à sepultura [sheol]." (Provérbios 15:24).
"Castigue-a, você mesmo, com a vara, e assim a livrará da sepultura [sheol]." (Provérbios 23:14).
"O sheol e a destruição são insaciáveis, como insaciáveis são os olhos do homem." (Provérbios 27:20).
"Eu os redimirei do poder da sepultura [sheol]; Eu os resgatarei da morte. [...] Onde está, ó sepultura [sheol], a sua destruição? [...]" (Oséias 13:14).
Hades
Deixando à margem os mitos pagãos que são relacionados à palavra grega "hades" e centralizando no seu significado etimológico, ela, à semelhança de "sheol", refere-se a: sepulcro, cova, sepultura, escuridão, região escura, morte. E, assim como ocorreu com "sheol", a palavra "hades" foi substituída por "inferno" em diversas traduções bíblicas. Entretanto, outras, como a NVI, mantiveram-na conforme os manuscritos originais:
"E você, Cafarnaum, será elevada até ao céu? Não, você descerá até o hades! [...]" (Mateus 11:23Lucas 10:15).
"[...] e sobre esta pedra edificarei a Minha igreja, e as portas do hades não poderão vencê-la." (Mateus 16:18).
"No hades, onde estava sendo atormentado, ele olhou para cima e viu Abraão de longe [...]" (Lucas 16:23).
"Sou Aquele que Vive. Estive morto mas agora estou vivo para todo o sempre! E tenho as chaves da morte e do hades." (Apocalipse 1:18).
"Olhei, e diante de mim estava um cavalo amarelo. Seu cavaleiro chamava-se Morte, e o hades o seguia de perto. [...]" (Apocalipse 6:8).
"Então a morte e o hades foram lançados no lago de fogo. [...]" (Apocalipse 20:14).
Geenna
A palavra grega "geenna" está diretamente vinculada ao hebraico "ge-hinnom", que por sua vez significa "vale de Hinom". Este vale, situado a sudoeste de Jerusalém, era utilizado pelos canaanitas para oferecer sacrifícios humanos, especialmente crianças, ao deus Moloque. O local específico do vale de Hinom onde eram realizados esses ritos macabros chamava-se Tofete (Levítico 20:1-5II Reis 23:10Jeremias 32:35).

Posteriormente, a antiga Jerusalém utilizou esse local como incinerador de lixo, cadáveres de animais, indigentes e criminosos. E por causa deste propósito o fogo era mantido constantemente aceso com o auxílio de enxofre. Todavia, em alguns casos, os corpos eram arremessados em locais desprovido de fogo e os vermes os utilizavam como alimento. E o profeta Isaías ao concluir o seu livro, mencionou as cenas de Hinom: "Sairão e verão os cadáveres dos que se rebelaram contra Mim; o verme destes não morre­rá, e o seu fogo não se apagará, e causarão repugnância a toda a humanidade." (Isaías 66:24 NVI).

Com o passar do tempo, o vale de Hinom tornou-se um símbolo de maldição e terror entre os judeus. E Jesus narrou para eles o destino dos ímpios utilizando o terrível cenário deste vale:
"E se teu olho te escandalizar, arranca-o: melhor é entrardes com um só olho no reino de Deus do que, tendo os dois olhos, seres atirado na geena, onde o verme não morre e onde o fogo não se extingue." (Marcos 9:47-48 BJ).
O cenário de "geenna" foi usado por Jesus para representar o "lago de fogo e enxofre" do juízo final, onde serão lançados aqueles que tiveram seus nomes eliminados do livro da Vida (Apocalipse 20:15 cf. Apocalipse 19:20). E em Marcos 9:47-48 observa-se o emprego de figura de linguagem, pois não existe verme imortal e fogo que não se apaga. O verme e o fogo de "geenna" que foram citados por Jesus, dependiam de fatores externos para existirem, e estes fatores eram o lixo, os cadáveres e o enxofre lançados no vale de Hinom ou Geena. Ao findar (esgotar) as condições que os mantinham, consequentemente, eles deixaram de existir. O "fogo" de Sodoma e Gomorra auxilia a esclarecer esta questão:
"De modo semelhante, Sodoma, Gomorra e as cidades vizinhas, por se terem prostituído, procurando unir-se a seres de uma natureza diferente, foram postas como exemplo, ficando sujeitas ao castigo de um fogo eterno." (Judas 1:7 BJ). "[...] como exemplo do que havia de sobrevir aos ímpios, condenou à destruição as cidades de Sodoma e de Gomorra,reduzindo-as a cinzas." (II Pedro 2:7 BJ).
Estes versos esclarecem que os habitantes das referidas cidades receberam como punição, a completa ruína; eles foram reduzidos às cinzas por causa de seus pecados e se tornaram exemplo do que ocorrerá no "lago de fogo e enxofre" descrito no livro de Apocalipse. As populações dessas cidades não estão sofrendo neste exato momento sob um "fogo contínuo" ("fogo inextinguível") pois elas deixaram de existir, entretanto, as consequências do fogo permanecem pela eternidade. O fogo perdurou enquanto aquilo que o mantinha ativo existia. Embora o fogo de Sodoma e Gomorra tenha findado, permanece o resultado de sua atuação - a perdição (destruição) eterna para aqueles que foram submetidos a ele. Este é o sentido da figura de linguagem de "fogo eterno".

Portanto, nota-se que não há nenhuma relação entre as palavras "infernum" e "geenna". O vocábulo latino "inferno" está associado à fábula de um lugar conhecido como o "submundo", e que estaria envolto por chamas infernais com o intuito de promover sofrimento insuportável aos ímpios pela eternidade. A palavra "inferno" representa ideias pagãs e não possui vínculo algum com os textos originais que formam a Bíblia, ela diverge por completo do significado de "geenna". E os versos bíblicos onde a palavra "geenna" foi trocada por "inferno", na maioria das traduções, são: Mateus 5:22, 29 e 30Mateus 10:28Mateus 18:9;Mateus 23:15 e 33Marcos 9:43, 45 e 47Lucas 12:5Tiago 3:6.

Tartaroo
A palavra grega "tartaroo", significa: "posição sombria"; "região tenebrosa"; "situação de trevas". Embora "tartoroo" não tenha vínculo com as palavras "sheol" e "hades", ela pode ser associada com "geenna" em relação aos acontecimentos futuros que estão reservados, também, aos anjos caídos. A palavra "tartaroo" é utilizada unicamente em II Pedro 2:4 e, assim como ocorreu nos casos anteriores, ela foi erroneamente substituída pela palavra "inferno". Porém, algumas traduções, como por exemplo a Bíblia de Jerusalém (BJ), optaram pela permanência do original:
"Com efeito, se Deus não poupou os anjos que pecaram, mas lançou-os nos abismos tenebrosos do tártaro [tartaroo], onde estão guardados à espera do julgamento." (II Pedro 2:4 BJ).
Pedro não relacionou a palavra "tartaroo" com as ideias pagãs que os gregos(c) mantinham e, tampouco, com o conceito popular dos judeus(d). Ele também não associou "tartaroo" com a existência de lugares especiais no submundo onde os anjos malignos estão presos. A palavra "tartaroo" foi usada para descrever a condição em que os anjos caídos se encontram enquanto aguardam o juízo de Deus (Apocalipse 20:10 cf. I Coríntios 6:3). O verso de Judas 1:6 auxilia a compreender esta questão:
"E, quanto aos anjos que não conservaram suas posições de autoridade mas abandonaram sua própria morada, Ele os tem guardado em trevas, presos com correntes eternas para o juízo do grande dia." (NVI).
Os anjos caídos estão presos por circunstâncias espirituais. Eles não possuem mais a presença de Deus em suas vidas, estão para sempre afastados da condição espiritual que desfrutavam no Céu antes de se rebelarem contra o Criador. Eles encontram-se envolvidos em "abismos espirituais" (profundas "trevas espirituais") e habitam entre a humanidade; porém, em uma dimensão espiritual (atmosfera espiritual, Efésios 6:12Lucas 11:24-26). Tais criaturas vagueiam pela Terra atormentando e subjugando os homens (Mateus 8:28-34Lucas 4:33-37Efésios 6:11-12) sob a liderança de Satanás (Jó 1:1-12Zacarias 3:1-2Mateus 4:1-10).

Os anjos malignos aguardam a punição descrita em Mateus 25:41 (cf. Apocalipse 20:10). Eles não estão, como alguns ensinam fundamentados no conceito pagão de inferno, isolados e acorrentados sob infindáveis castigos, ou, torturando os ímpios numa região infernal. As "correntes" que os prendem não são literais, mas simbolizam a condição espiritual que os cercam e as restrições impostas a eles (I Pedro 1:3-5 cf. Efésios 6:10-12II Pedro 2:11), e tampouco poderiam ser eternas, pois aproxima-se o dia em que eles serão exterminados e tais "correntes" perderão o seu propósito e a qualidade de "eternas".


b. Acesse: Mortalidade da Alma
c. Segundo a mitologia grega, Tártaro é um local situado abaixo da região do Inferno (infernum); é considerado o local mais profundo do submundo onde os deuses mitológicos prendem e torturam seus inimigos em calabouços. Ainda de acordo com o mito grego, Tártaro seria o oposto de um paraíso chamado Elysium.
d. A concepção que os judeus tinham de Tártaro originava-se do livro de Enoque (literatura apócrifa). Nele, Tártaro é apresentado como uma região no submundo onde Azazel e seus anjos estão presos aguardando o julgamento final. E, um arcanjo chamado Uriel seria o responsável em supervisioná-los (I Enoque 10; I Enoque 20).

sábado, 8 de novembro de 2014

Inferno: Tormento Eterno?

O inferno é uma doutrina bíblica, mas, que espécie de inferno? Um lugar onde os pecadores impenitentes queimam para sempre e conscientemente sofrem dor num fogo eterno que nunca termina? Ou uma punição na qual Deus aniquila de forma definitiva pecado e pecadores após o Seu julgamento?

Tradicionalmente tem-se ensinado o inferno como um tormento eterno. Porém, será possível que Deus, que tanto amou o mundo e enviou Seu Filho para salvar os pecadores, possa também ser um Deus que tortura para sempre as pessoas? Como poderia Deus demonstrar amor e justiça enquanto proporciona sofrimento eterno aos pecadores (mesmo o pior deles)? Este paradoxo inaceitável tem levado estudiosos a reexaminar o ensino bíblico quanto ao inferno e o castigo final. A questão fundamental é: o fogo do inferno tortura os perdidos eternamente ou os elimina permanentemente?

Inferno: aniquilamento definitivo do mal
A crença no aniquilamento dos perdidos é baseada em quatro considerações bíblicas:

1. A morte como punição do pecado
O aniquilamento final dos pecadores impenitentes é indicado, em primeiro lugar, pelo princípio bíblico: "aquele que pecar, esse morrerá" (Ezequiel 18:4 BJ), "porque o salário do pecado é a morte"(a) (Romanos 6:23 BJ). A morte é uma realidade que envolve toda a raça humana por causa do pecado de Adão (Romanos 5:12 cf. I Coríntios 15:21-22); e, se não fosse pela ressurreição, ela seria o término definitivo da existência (I Tessalonicenses 4:16-17Daniel 12:1-2).

Contudo, haverá duas ressurreições, uma destinada para aqueles que possuem seus nomes escritos no livro da Vida, e outra para aqueles que tiveram seus nomes eliminados dele em decorrência de pecados não confessados(b) (Atos 2:28I João 2:1-2;Hebreus 4:12-16). Para estes, a Bíblia relata que haverá uma ressurreição para a segunda morte. O propósito desta ressurreição é anunciar os motivos que impediram tais pessoas de herdarem a vida eterna e, executar a devida punição pelos seus atos malévolos, especialmente pela rejeição do arrependimento que os conduziriam ao sacrifício de Cristo.1 Esse aniquilamento final ocorrerá no "lago de fogo e enxofre", que é o inferno que a Bíblia ensina; nele ocorrerá a irreversível segunda morte (Apocalipse 20:14Apocalipse 21:8).

2. O vocabulário bíblico sobre a destruição dos ímpios
A segunda razão para crer no aniquilamento definitivo do pecado, é o vocabulário bíblico utilizado para descrever a sua destruição. De acordo com Basil Atkinson, o Velho Testamento usa mais de 25 substantivos e verbos para descrever a extinção dos ímpios.2 Diversos salmos relatam esse acontecimento.3 Isaías e Malaquias, por exemplo, declaram:
"Eis que vem o dia do Senhor, dia cruel, com ira e ardente furor, para converter a Terra em assolação e dela destruir os pecadores. [...] Castigarei o mundo por causa da sua maldade e os perversos, por causa da sua iniquidade; farei cessar a arrogância dos atrevidos e abaterei a soberba dos violentos. Farei que os homens sejam mais escassos do que o ouro puro, mais raros do que o ouro de Ofir." (Isaías 13:9-12 RA cf. Isaías 24:5-6).

"Pois eis que vem o dia e arde como fornalha; todos os soberbos e todos os que cometem perversidade serão como o restolho; o dia que vem os abrasará, diz o Senhor dos exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo. [...] Pisareis os perversos, porque se farão cinzas debaixo das plantas de vossos pés, naquele dia que prepararei, diz o Senhor dos exércitos." (Malaquias 4:1-3 RA).
Jesus comparou a destruição dos ímpios como: o joio atado em molhos para serem queimados (Mateus 13:30 e 40), Ele declarou ainda: "Se alguém não permanecer em Mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados." (João 15:6 NVI cf. Lucas 17:26-30). Todas estas ilustrações descrevem a destruição final dos ímpios. O contraste entre o destino dos salvos e dos perdidos é respectivamente vida versus morte. A linguagem de extinção é inescapável também no livro do Apocalipse, onde João descreve com ilustrações vívidas o lançamento do diabo, da besta, do falso profeta e de todos os ímpios no lago de fogo, no qual ocorrerá a "segunda morte" (Apocalipse 20:10Apocalipse 21:8).

3. As implicações morais do tormento eterno
A doutrina do tormento eterno é inaceitável, a noção de que Deus tortura pecadores pela eternidade é totalmente incompatível com a revelação bíblica de Deus com amor infinito (Ezequiel 18:20-28Ezequiel 33:10-16). Um Deus que inflige tortura infinita as Suas criaturas, não importando o quão pecadoras elas foram, não pode ser o Pai de amor que Jesus Cristo nos revelou.

Tem Deus duas faces? É Ele infinitamente misericordioso de um lado e insaciavelmente cruel de outro? Pode Ele amar os pecadores arrependidos de tal modo que enviou Seu Filho para salvá-los, e ao mesmo tempo odiar os pecadores impenitentes tanto que os submetem a um tormento cruel sem fim? Podemos legitimamente louvar a Deus por Sua bondade enquanto Ele atormenta os pecadores para sempre?

A intuição moral que Deus plantou em nossa consciência não pode aceitar a crueldade de uma divindade que sujeita pecadores a tormento infindo. A justiça divina não poderia jamais exigir a penalidade infinita de dor eterna por causa de pecados finitos. Isso acarretaria enorme desproporção entre os pecados cometidos durante uma curta vida e o castigo infinitamente duradouro.

4. As implicações cosmológicas do tormento eterno
A quarta razão para crer no aniquilamento dos perdidos é que, tormento eterno, pressupõe um dualismo cósmico eterno. Céu e inferno, alegria e sofrimento, bem e mal coexistiriam para sempre. É impossível reconciliar esta opinião com a visão profética da nova Terra:
"Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou." "Pois vejam! Criarei novos céus e nova Terra, e as coisas passadas não serão lembradas. Jamais virão à mente!" (Apocalipse 21:4 NVIIsaías 65:17 NVI).
Como poderá o sofrimento ser esquecido se a angústia dos perdidos estiver na nova ordem? A presença de incontáveis milhões sofrendo para sempre um tormento punitivo, mesmo se fosse bem longe do arraial dos santos, serviria apenas para destruir a paz e a felicidade do novo mundo. A nova criação surgiria defeituosa desde o primeiro dia, visto que os pecadores permaneceriam como uma realidade eterna no universo de Deus.

Entre os objetivos do plano de salvação consta a extinção definitiva do mal(c). Somente quando os pecadores, Satanás e seus anjos forem extintos no "lago de fogo e enxofre", Cristo terá finalmente completado Sua obra de purificação e restauração de todas as coisas (Apocalipse 21:5). O ensino bíblico do juízo e sua sentença final que aniquila completamente os ímpios, os sentenciando a morte eterna, revela um Deus de justiça.

A destruição dos ímpios, um ato de misericórdia
"Poderiam aqueles cuja vida foi empregada em rebelião contra Deus, ser subitamente transportados para o Céu, e testemunhar o estado elevado e santo de perfeição que ali sempre existiu, estando toda alma cheia de amor, todo rosto irradiando alegria, ecoando em honra de Deus e do Cordeiro uma arrebatadora música em acordes melodiosos, e fluindo da face dAquele que Se assenta sobre o trono uma incessante torrente de luz sobre os remidos; sim, poderiam aqueles cujo coração está cheio de ódio a Deus, à verdade e santidade, unir-se à multidão celestial e participar de seus cânticos de louvor? Poderiam suportar a glória de Deus e do Cordeiro?

Não, absolutamente; anos de graça lhes foram concedidos, a fim de que pudessem formar caráter para o Céu; eles, porém, nunca exercitaram a mente no amor à pureza; nunca aprenderam a linguagem do Céu, e agora é demasiado tarde. Uma vida de rebeldia contra Deus incapacitou-os para o Céu. A pureza, santidade e paz dali lhes seriam uma tortura; a glória de Deus seria um fogo consumidor. Almejariam fugir daquele santo lugar. Receberiam alegremente a destruição, para que pudessem esconder-se da face dAquele que morreu para os remir. O destino dos ímpios se fixa por sua própria escolha; a exclusão do Céu é espontânea de sua parte, e justa e misericordiosa da parte de Deus."4


Vídeo relacionado: Inferno Eterno?
Texto extraído e adaptado de: BACCHIOCCHI, S. (1997). Immortality or Resurrection? A Biblical Study on Human Nature and Destiny. Berrien Springs, Michigan: Biblical Perspectives, p. 193-248.
a. E pecado é a transgressão da lei de Deus (I João 3:4; Romanos 8:5-8).
c. Acesse: O Bode para Azazel
1. II Coríntios 7:10; Hebreus 9:27-28; Apocalipse 20:5-6; Apocalipse 20:12-15 cf. Salmos 69:24-28.
2. ATKINSON, B. F. C. (1970). Life and Immortality, Taunton, England: E. Goodman, p. 85-86.
3. Salmos capítulo 1; Salmos 11:4-7; Salmos 37:12-24; Salmos 145:20.
4. WHITE, E. G. Grande Conflito, O; São Paulo: CPB, sec. IV, cap. 33, p. 542-543.