sábado, 26 de abril de 2014

Lei de Deus & Lei de Moisés - II

Acreditar que as Sagradas Escrituras utilizam sempre a palavra "lei" como referência a todos os mandamentos, estatutos e juízos divinos, sem distinção, é tratá-las como um amontoado de contradições. É afirmar que havia discordância doutrinária entre os discípulos; é declarar que Paulo era instável em seus ensinos ao comparar, por exemplo, Romanos 2:13 e Gálatas 2:16; é obrigatoriamente assumir que os Dez Mandamentos foram abolidos na cruz do Calvário, e assim, apoiar um dos maiores sofismas de Satanás contra eles (Apocalipse 12:17 cf. João 14:30-31João 15:10). Diversos textos bíblicos são interpretados grosseiramente às avessas com o intuito de sustentar a fictícia ideia de que todas as coisas vinculadas a palavra "lei" foram revogadas. E os mais utilizados com este propósito são: Efésios 2:14-16Colossenses 2:14 e Hebreus 10:1.

"Lei dos mandamentos na forma de ordenanças"
"Porque Ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na Sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em Si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade." (Efésios 2:14-16 RA).
O tema central da carta aos efésios é a unidade da igreja (na época formada por judeus e gentios, Atos 13:43-48). E esta unidade estava ameaçada por: interpretações equivocadas da lei de Moisés (Tito 1:12-14 cf. Marcos 7:7-9); exigências feitas aos gentios para que seguissem integralmente a lei mosaica(a) (cf. Atos 15:1-5); e, pelo comportamento exclusivista e hostil de alguns judeus (cf. Gálatas 2:12). Estes fatores foram os responsáveis pelas desavenças e separação entre judeus e gentios, não a lei de Moisés. Esta lei não foi estabelecida por Deus para proporcionar essa desunião(b), ao contrário, embora ela possua regimentos restritos a Israel, o seu conteúdo foi elaborado para beneficiar a todos os povos.1

As mudanças no sacerdócio levítico, que era orientado pela lei (Hebreus capítulo 7), não foram compreendidas de imediato após a morte de Cristo, isso ocorreu gradativamente e com fortes conflitos ideológicos. Quase todas as desavenças que desencadearam a divisão ("parede da separação") entre judeus e gentios originavam-se de questões litúrgicas da lei de Moisés. E Cristo destruiu essa "parede" ao encerrar em Si mesmo o conjunto de regras cerimoniais ("lei dos mandamentos na forma de ordenanças") que simbolizavam a Ele e Seu sacrifício. Esta é a questão tratada em Efésios 2:14-16. Ressaltando que essas cerimônias foram cessadas devido o cumprimento de suas funções e não por causa da turbulência entre judeus e gentios. A destruição da "parede de separação" foi um benefício adicional proporcionado pela cruz.

A palavra "ordenança" usada em Efésios 2:15 provém do grego "dogma", e significa: doutrina; regulamento; ordem civil ou cerimonial; requerimento da lei de Moisés.2 Estas definições reforçam o entendimento de que não houve revogação integral da lei mosaica, mas, de sua parte cerimonial; visto que muitos ensinos trazidos nesta lei são indispensáveis, sobretudo os Dez Mandamentos transcritos das tábuas de pedra(c). Adiante alguns comentários que seguem este posicionamento bíblico:

John Calvin, considerado o personagem mais importante da segunda geração da Reforma, afirma:
"O que havia sido metaforicamente compreendido pela palavra 'parede', é agora mais claramente expresso. As cerimônias, pelas quais a divergência foi mencionada, foram abolidas por meio de Cristo (...). Quando uma obrigação é revogada, a escrita é destruída; uma metáfora que Paulo utiliza, neste assunto, [encontra-se] em outra epístola (Colossenses 2:14). (...) Esta é a habitual frase de Paulo para descrever a lei cerimonial, a qual o Senhor não ordenou aos judeus meramente como uma simples conduta de vida, pois ligava-os a vários estatutos. É evidente, também, que Paulo está tratando aqui exclusivamente da lei cerimonial, visto que a lei moral não é um muro de divisão que nos separa dos judeus, mas estabelece instruções nas quais os judeus não eram menos interessados em relação a nós mesmos."3
John Wesley, fundador da igreja Metodista, declara:
"Tendo abolido pelo Seu sofrimento na carne, a causa da inimizade entre judeus e gentios, como a lei de mandamentos cerimoniais e todos os decretos dela. Com isso oferece misericórdia a todos; ver Colossenses 2:14."4
Adam Clarke, teólogo metodista, esclarece:
"A inimizade de que fala o apóstolo era recíproca entre judeus e gentios. O primeiro detestava os gentios, e dificilmente admitia classificá-los de homens; e o segundo tinha o maior desprezo pelos judeus por causa da peculiaridade de seus ritos e cerimônias religiosas, que diferenciavam de todas as demais nações da Terra."5
Albert Barnes, escritor e ministro presbiteriano, sustenta:
"(...) A ideia é, que a lei cerimonial dos judeus, que eles tanto orgulhavam-se, foi a causa da hostilidade existente entre eles. (...) Quando Cristo veio e aboliu através de Sua morte a peculiar lei cerimonial, naturalmente que a causa desse afastamento cessou. (...) Isto não se refere à lei moral, que não era a causa da separação, e que não foi abolida pela morte de Cristo, mas às leis que determinam sacrifícios, festivais, jejuns e etc.; que constituem as particularidades do sistema judaico. (...) A palavra 'ordenança' significa: decreto, edito, regra (Lucas 2:1Atos 16:4Atos 17:7Colossenses 2:14)."6
John MacArthur, escritor e pastor batista, assevera:
"(...) Agora, qual foi o maior obstáculo, a maior e genuína barreira entre um judeu e um gentio? O que era ela? Basicamente, a lei cerimonial, não foi? No geral, as questões judaicas. O conjunto cerimonial: festa religiosa, jejum, vestimenta, comida, circuncisão; todas as coisas que tinham. (...) ele [Paulo] não está falando sobre a lei moral. Permita-me antecipar isto. Deus tem uma lei moral, e a lei moral de Deus nunca muda. Nunca. Ela jamais mudou. A lei moral de Deus não foi abolida. Romanos 1 e 2 dizem que ela está escrita no coração de cada homem. A lei moral de Deus foi formalizada nos Dez Mandamentos em Êxodo 20. A lei moral de Deus está resumida em Mateus 22, onde há um grande mandamento."7
Geneva Bible(d), primeira tradução da Bíblia em inglês baseada diretamente de fontes hebraica e grega, traz em suas notas de rodapé o seguinte comentário:
"Cristo ofereceu em Seu próprio corpo o sacrifício definitivo, do qual os sacrifícios do templo eram apenas sinal [simbolismo]. As leis cerimoniais do Antigo Testamento que separavam judeus dos gentios não têm mais razão de ser após o seu cumprimento em Cristo."8

"Escrito de dívida"
"Tendo cancelado o escrito de dívida", que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz." (Colossenses 2:14 RA).
A expressão "escrito de dívida" de Colossenses 2:14 é traduzida do grego "cheirographon", que significa: manuscrito (formalmente estabelecido); nota manuscrita; nota promissória; dívida a ser restituída.9 "Escrito de dívida" não é sinônimo de lei. A palavra "lei" nem ao menos é usada na carta aos colossenses.

Deus estabeleceu uma lei justa para direcionar o proceder individual e coletivo, e não para ser um conjunto de regras "prejudiciais". Prejudicial, no verso em questão, é a punição destinada ao violador da lei. E esta punição auxilia na integridade e respeito da própria lei. A dívida mencionada em Colossenses 2:14 existia (subsistia) por causa das transgressões contra o regimento da lei, como por exemplo, as violações cometidas contra as ordenanças. Por isso a afirmativa: "cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças [dogma]" (Colossenses 2:14 NVI).

Certamente que houve preceitos cerimoniais da lei de Moisés que foram revogados devido ao cumprimento de seus propósitos, e Paulo menciona isso em Efésios 2:14-16. Contudo, Colossenses 2:13-14 volve-se especificamente sobre o cancelamento do débito ("escrito de dívida") gerado pelo desrespeito à lei. Pois, assim como a lei prescreve bênçãos aos que lhe obedecem, ela também determina maldições e penalidades aos que se desviam de suas orientações.10 E existia uma dívida a ser paga por aqueles que a transgrediram; porém, ela foi quitada ("removida") pelo sacrifício de Cristo.

Embora a cruz do Calvário seja o ponto de referência para Efésios 2:15 e Colossenses 2:14, há um contraste entre eles, visto que existe diferença entre: revogar algo após a sua função ter sido concluída, como ocorreu com as ordenanças cerimoniais da lei(e) citadas em Efésios 2:15; e, revogar algo motivado pelo perdão, como ocorreu com a "dívida" mencionada em Colossenses 2:14, que foi gerada pela transgressão da lei. Outra interpretação atribuída a Colossenses 2:14, afirma que o "escrito de dívida" refere-se aos preceitos cerimoniais da lei mosaica, e entre os adeptos deste posicionamento estão: Adam Clarke,11 Albert Barnes,12 John Calvin,13John Gill14 e Matthew Henry15.

"Sombras dos bens vindouros"
"Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem." (Hebreus 10:1 RA).
A lei de Moisés possui normas cerimoniais que orientavam os simbolismos, as prefigurações de Jesus Cristo e Seu sacrifício em oferta pelos pecados da humanidade (Hebreus capítulo 9); normas que tratavam das questões litúrgicas do santuário terrestre, tais como: ofertas, holocaustos, abluções, festividades e etc. E estas liturgias são chamadas por Paulo de "sombra dos bens vindouros" ou "sombra dos benefícios que hão de vir" (NVI).

A lei mosaica não é constituída integralmente de preceitos cerimoniais(f). O verso de Hebreus 10:1 afirma que esta lei "tem", e não que ela é a "sombra dos bens vindouros". A flexão verbal "tem" origina-se do verbo grego "echo", que significa: possuir; conter; incluir; manter; reter algo e utilizá-lo. É até ridículo considerar a lei de Moisés, em sua totalidade, uma "sombra de benefícios futuros", pois a mesma possui mandamentos morais e éticos que promovem benefícios imediatos quando obedecidos.


b. Além da inimizade entre judeus e gentios, pode-se adicionar a inimizade destes para com Deus, pois ambos os grupos violaram o segundo fundamento de Sua lei, o "amor ao próximo" (Levítico 19:18 cf. Mateus 22:39).
d. Obra coordenada por Miles Coverdale (foi adepto do luteranismo e auxiliar de Willian Tyndale na tradução do Pentateuco) e John Knox (principal líder da Reforma na Escócia). A Geneva Bible (Bíblia de Genebra) foi a precursora da versão King James (1611).
e. As regras cerimoniais da lei de Moisés não foram anuladas para que a punição do pecador fosse cancelada, não existe este ensino nas Escrituras. Perdão se obtém pelo arrependimento e fé em Cristo, unicamente por intermédio dEle, Deus elimina e esquece a pendência, a dívida, o castigo cobrado pela lei (Jeremias 5:25; Jeremias 11:10; Isaías 43:25; Hebreus 8:8-12; Hebreus 10:16-18 cf. Isaías 1:18-20). Acesse: Perdão e Salvação.
1. Êxodo 19:5-6 cf. Romanos 3:2; Levítico 24:22; Isaías 51:4; Isaías 56:6-7; Romanos 3:29-30; Gálatas 3:28-29.
2. STRONG, J. (1981). The Exhaustive Concordance of the Bible, ed. Macdonald Publishing Company; (ref. n.º 1378).
3. CALVIN, JOHN. Commentary on Galatians and Ephesians, Grand Rapids, MI: CCEL, p. 197-198.
4. WESLEY, J. Wesley's Notes on the Bible, Grand Rapids, MI: CCEL, p. 483.
5. CLARKE, A. (1838). The New Testament of our Lord and Saviour Jesus Christ, Philadelphia: Cowperthwait & Co., p. 229.
6. BARNES, A. (1854). Notes, Explanatory and Pratical, on the Epistles of Paul to the Ephesians, Philippians, and Colossians, New York: Harper & Brothers Publishers, p. 53b.
7. John Fullerton MacArthur, The Unity of the Body, part 2, sermon n.º 1910 (March 12, 1978).
8Geneva Study Bible, commentary on Ephesians 2:14.
9. STRONG, J. opcit., (ref. n.º 5498).
10. Deuteronômio capítulos 28, 29 e 30; Josué 1:1-8; Josué 8:34-35.
11. CLARKE, A. opcit., p. 270a.
12. BARNES, A. opcit., p. 304a.
13. CALVIN, J. Commentary on Philippians, Colossians, and Thessalonians, Grand Rapids, MI: Christian Classics Ethereal Library, p. 164-165.
14. GILL, J. Exposition of the Bible: New Testament Commentary; (Colossians 2:14).
15. HENRY, M. The Concise Commentary on the Whole Bible, Grand Rapids, MI: CCEL, p. 1934-1935.


sábado, 19 de abril de 2014

Lei de Deus & Lei de Moisés

A Bíblia apresenta diversas leis, com destaque para a lei de Deus - constituída por Dez Mandamentos estritamente morais e escritos em duas tábuas de pedra. As demais, foram agrupadas em um livro e disciplinam diversos assuntos. E esta questão básica não é compreendida pela maioria dos cristãos, ocasionando inúmeras contradições e severos erros doutrinários.

Na lei de Deus (Romanos 7:22Romanos 8:7), conhecida também como a "lei da Liberdade", "lei Perfeita", "lei Régia" ou "lei Real" (Tiago 1:25 cf. Salmos 19:7;Tiago 2:8), não existe orientações sobre alimentação, higiene, procedimentos litúrgicos, processos jurídicos, penais e etc; nela, encontra-se unicamente princípios morais e éticos universais reunidos em dez preceitos escritos diretamente por Deus, e os quais são usados como norma de justiça em Seu juízo(a).1

Após proclamar Sua lei no monte Sinai, Deus orientou Moisés a escrever um livro contendo diversas leis civis, levíticas, sanitárias, tributárias, militares, judiciais, e etc. (Êxodo 24:1-7 cf. Deuteronômio 4:13-14Deuteronômio 31:24-26). E este livro é identificado como: livro de Moisés, livro da Aliança, livro da Lei, livro da lei de Moisés e, lei de Moisés.2 Embora Moisés tenha sido o responsável por escrevê-lo, os israelitas tinham plena convicção de que todas as suas instruções eram provenientes de Deus, e isso os motivaram a chamá-lo também de: "livro da lei do Senhor" e "livro da lei de Deus".3 Assim, por este meio literário, a nação israelita obtinha direcionamento tanto nas questões políticas-administrativas quanto nas questões religiosas. Nota-se ainda que o seu vasto conteúdo guiava, direta ou indiretamente, os israelitas aos princípios exigidos pela lei de Deus (Dez Mandamentos). Deste modo, eles poderiam aprender, vivenciar e ensinar os propósitos de Deus para a humanidade.4

Deve-se observar também que, apesar de Moisés ter transcrito a lei de Deus para o mencionado livro, isso não significa que ela passou a ser considerada de mesma finalidade, importância e validade em relação as demais. Ele tão somente transcreveu o conteúdo desta lei que, após a sua entrega, passou a ser guardada dentro da arca da aliança;5 e o acesso às duas tábuas de pedra que formavam a lei de Deus era extremamente restrito devido a santidade delas e do local onde estavam alojadas. Então, para que a nação tivesse a sua disposição uma leitura fiel dos Dez Mandamentos, Deus ordenara que Moisés os transcrevessem para o livro.

Preceitos temporários e perpétuos
A lei de Deus é a base da lei de Moisés. Todos os preceitos morais da lei mosaica estão fundamentados na lei de Deus; várias leis civis presentes na lei de Moisés são norteadas também pelos princípios de justiça que a lei de Deus estabelece. O respeito pelo o que é santo, e a dedicação nos serviços cerimoniais que eram exercidos no santuário terrestre, não teriam sentido algum se a lei de Deus não distinguisse e condenasse o pecado.6Excluindo-se os Dez Mandamentos defendidos por esta lei, automaticamente extingui-se tudo aquilo que conduz a uma vida de retidão. Estes são alguns dos motivos pelas quais as duas tábuas de pedra estavam guardadas exclusivamente dentro da arca da aliança e nenhum outro sistema legislativo encontrava-se ali.

Sobre as orientações contidas na lei de Moisés, várias normas cerimoniais (especialmente aquelas que simbolizavam a Cristo e Seu sacrifício) cessaram na cruz do Calvário.7 Diferentemente, isso não ocorre com as normas morais e éticas presentes na lei de Moisés que procedem da lei de Deus, como por exemplo, as registradas em Êxodo 23:1-9Levítico capítulo 18 e, Levítico 19:13-18. Igualmente, permanece as leis sobre saúde (ex.: Levítico capítulo 11) e alguns princípios jurídicos (observando os procedimentos atuais e locais).8 No geral, ao analisar a lei de Moisés, deve-se observar quais orientações são aplicáveis na nova aliança, e destas, quais são de aplicabilidade universal, pois existem instruções destinadas exclusivamente ao povo de Israel.

A enorme confusão que assola o cristianismo em relação ao tema "lei", decorre do desprezo dessas questões básicas e essenciais. O uso da palavra "lei" na Bíblia é diversificado e complexo, não se obtém o verdadeiro entendimento, em cada caso, isolando versos de seus respectivos contextos. A falta de discernimento e de interesse sobre esses assuntos vem acarretando deturpadas interpretações bíblicas, e de maneira mais acentuada nos escritos do apóstolo Paulo.

As Escrituras relatam que alguns judeus convertidos ao cristianismo defendiam que as práticas cerimoniais da lei de Moisés, que tinham perdido utilidade na nova aliança, fossem seguidas(b). E esta situação conduziu Paulo a rebatê-los, o que proporcionou diversos conflitos, como àqueles registrados em II Coríntios capítulo 3Gálatas capítulo 2 e Colossenses capítulo 2. Motivado por estes transtornos, Paulo foi impulsionado a dizer aos gálatas: "Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus (...)" (Gálatas 2:16 RA cf. Gálatas 3:11). E censurou-os dizendo: "Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão." (Gálatas 2:21 RA). Ele demonstrava que seguir as prescrições cerimoniais da lei de Moisés pertinentes a antiga aliança, sobretudo aquelas que representavam o sacrifício de Cristo, era desprezar o Seu sangue ofertado para perdoar os pecados; era anular a Sua graça.

Diferentemente do ocorrido nas igrejas de Corinto, Galácia e Colossos, Paulo não teve esses problemas nas igrejas de Roma. Aos romanos ele exortava referindo-se não as ordenanças da lei de Moisés que expiraram com a nova aliança, mas, aos mandamentos da lei de Deus: "Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados."(c) (Romanos 2:13 RA cf. Isaías 51:4-5). "Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei." (Romanos 3:31 RA). Claramente nota-se a exorbitante diferença entre Romanos 2:13 e Gálatas 2:16.

O apóstolo Pedro, responsável pelo ensino do evangelho aos judeus, após ser alertado por Paulo a não permitir que as errôneas doutrinas dos cristãos judaizantes fossem mantidas (Gálatas 2:11-14), escreveu a seguinte exortação:
"(...) e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles." (II Pedro 3:14-16 RA).
E o próprio Paulo auxilia a esclarecer quais preceitos estão atuantes e quais foram revogados ao dizer: "Foi alguém chamado sendo já circunciso? Não desfaça a sua circuncisão. Foi alguém chamado sendo incircunciso? Não se circuncide. A circuncisão não significa nada, e a incircuncisão também nada é; o que importa é obedecer aos mandamentos de Deus." (I Coríntios 7:18-19 NVI). E a circuncisão é um procedimento descrito na lei de Moisés, apesar de ter sido instituída na época de Abraão (Gênesis 21:4Atos 7:8), enquanto os mandamentos de Deus que Paulo exorta para serem obedecidos encontram-se nas duas tábuas de pedra (cf. Romanos 13:8-10).

Considerações Finais
A lei de Deus é distinta por: ter sido pronunciada e escrita pelo próprio Criador; ter sido guardada dentro da arca da aliança; pela função de revelar o pecado; e, por ser constituída unicamente de mandamentos morais, todos inalteráveis, inseparáveis, infindáveis e universais.9 Enquanto a lei de Moisés caracteriza-se por: ter sido divulgada e escrita pelo profeta Moisés; ter sido depositada ao lado da arca da aliança; pelas prescrições de ofertas por causa do pecado; e, por possuir mandamentos variados, restritos e temporais.

Pode-se destacar ainda que a lei de Deus existia antes da queda do homem(d)(cf. Romanos 4:15), e não possui regras punitivas para os seus transgressores. Por sua vez, a lei de Moisés foi estabelecida após a entrada do pecado neste mundo, e contém normas penais que foram seguidas até a época de reforma.10Antes do sacrifício de Cristo, aquele que aceitasse o pacto da antiga aliança e, posteriormente, violasse as ordenanças contidas na lei de Moisés e/ou transgredisse os mandamentos da lei de Deus era punido de forma imediata, e em alguns casos com a morte, dependendo do crime.

Embora os procedimentos penais da antiga aliança estejam invalidados(e), isso não significa que a lei de Deus, reafirmada na nova aliança (Hebreus 8:10-13Hebreus 10:15-17 cf. Mateus 5:17-19), perdera valor e que, as transgressões cometidas contra ela não sofrerão o devido castigo. Pecado continua sendo transgressão contra a lei de Deus, e cada infração não perdoada(f) será punida quando Cristo retornar; Ele retribuirá a cada um conforme as suas obras (Apocalipse 22:10-15Hebreus 4:12-13).


1. Êxodo 24:12; Êxodo 31:18; Êxodo 32:15-16; Deuteronômio 4:10-14; Deuteronômio 9:9-11; Êxodo 20:3-17 cf. Êxodo 34:1-2.
2. Êxodo 24:7; Deuteronômio 29:21; Deuteronômio 31:26; Josué 1:8; Josué 8:34; Josué 23:6; II Reis 14:6; II Reis 23:2 e 21; II Crônicas 25:4; II Crônicas 34:30; Neemias 8:1; Neemias 13:1; Marcos 12:26; Lucas 2:22; Lucas 24:44; Atos 15:5; I Coríntios 9:9; Gálatas 3:10.
3. Josué 24:26; II Crônicas 17:9; II Crônicas 34:14-15; Neemias 8:18; Neemias 9:3.
4. Êxodo 19:5-6 cf. Gênesis 18:19, Gênesis 26:4-5, Romanos 3:2; Levítico 24:22; Isaías 51:4; Isaías 56:6-7; Romanos 3:29-30; Gálatas 3:28-29.
5. Êxodo 25:16 e 21; I Reis 8:9; I Reis 8:21; II Crônicas 6:11; Hebreus 9:1-4.
6. Romanos 3:20; Romanos 7:7; Romanos 4:15; Tiago 2:8-13; I João 3:4.
7. João 1:45; João 5:46; Marcos 15:37-39; Gálatas 3:23-29.
8. Deuteronômio 17:8-9; Deuteronômio 21:18-20; Romanos 13:1-4; Tito 3:1-2.
9. Mateus 5:17-19; Lucas 16:17 cf. Malaquias 3:6, Tiago 2:10-12; Apocalipse 14:12.
10. Colossenses 2:13-15; Hebreus 7:18-19 cf. Efésios 2:14-16; Hebreus capítulo 8 e 9.

sábado, 12 de abril de 2014

Espírito

"Pois não me faltam palavras, e dentro de mim o espírito me impulsiona." (Jó 32:18 NVI).
"A minha alma(a) suspira por Ti de noite, sim, no meu íntimo, o meu espírito Te busca (...)" (Isaías 26:9 BJ).
"(...) Fala o Senhor, O que estendeu o céu, fundou a terra e formou o espírito do homem dentro dele." (Zacarias 12:1 RA).
Espírito: um ser sobrenatural no interior do homem?
Entre as diversas crenças populares, destaca-se a ideia de que existe um "espírito" particular dentro de cada ser humano. Esse "espírito" seria uma entidade sobrenatural exclusiva, autônoma e dotada de personalidade própria com a função de guiar o intelecto; chegando a materializar-se quando desejável. Todavia, esta absurda crença não possui amparo escriturístico. A palavra "espírito", presente nos versos citados acima, origina-se do substantivo hebraico "ruwach"(b), e este possui diversos significados, tais como:
"Vento":
"(...) Deus fez passar um vento [ruwach] sobre a terra e as águas baixaram." (Gênesis 8:1 BJ).
"E o Senhor fez soprar com muito mais força o vento [ruwach] ocidental (...)" (Êxodo 10:19 NVI).
"Vigor"; "força física":
"Deus então abriu a rocha que há em Leí, e dela saiu água. Sansão bebeu, suas forças [ruwach] voltaram (...)" (Juízes 15:19 NVI).
"Deram-lhe também um pouco de massa de figos secos (...). Ele comeu e suas forças [ruwach] se recuperaram (...)" (I Samuel 30:12 BJ).
"Coragem"; "ânimo":
"Ouvindo isto, desmaiou-nos o coração, e em ninguém mais há ânimo [ruwach] algum (...)" (Josué 2:11RA).
"(...) Por isso, desanimaram-se e perderam a coragem [ruwach] de enfrentar os israelitas." (Josué 5:1NVI).
"Mente"; "pensamento":
"(...) Conheço as vossas maquinações [ruwach]." (Ezequiel 11:5 BJ).
"O que vos ocorre à mente [ruwach] de maneira nenhuma sucederá (...)" (Ezequiel 20:32 RA).
"Vida":
"(...) 'Ó Deus, Deus que a todos dá vida [ruwach], ficarás tu irado contra toda a comunidade quando um só homem pecou?'" (Números 16:22 NVI).
"O Senhor, autor e conservador de toda vida [ruwach], ponha um homem sobre esta congregação." (Números 27:16 RA).
"Fôlego" de Vida:
"De toda carne, em que havia fôlego [ruwach] de vida, entraram de dois em dois para Noé na arca." (Gênesis 7:15 RA).
"Em Sua mão está a vida de cada criatura e o fôlego [ruwach] de toda a humanidade." (Jó 12:10 NVI).
Algo "sem sentido", "sem valor":
"Responderia o sábio com ideias vãs [ruwach], ou encheria o estômago com o vento?" (Jó 15:2 NVI).
"Não há um limite para discursos vazios [ruwach]? Que há que te incita a contestar?" (Jó 16:3 BJ).
"Sentimento"; "emoção":
"(...) Diante disso, acalmou-se a indignação [ruwach] deles contra Gideão." (Juízes 8:3 NVI).
"O insensato expande suas paixões [ruwach] todas, mas o sábio as reprime e acalma." (Provérbios 29:11BJ).
"Direção"; "pontos cardeais":
"Nos quatro pontos cardeais [ruwach] ficavam os porteiros: a leste, a oeste, ao norte e ao sul." (I Crônicas 9:24 BJ).
"Mediu também o lado [ruwach] sul: quinhentas canas. Voltou-se para o lado [ruwach] ocidental e mediu quinhentas canas." (Ezequiel 42:18-19 RA).
"Espírito":
"(...) 'Peço-te que me toque por herança porção dobrada do teu espírito [ruwach]'." (II Reis 2:9 RA).
"Os irmãos profetas viram-no a distância e disseram: 'O espírito [ruwach] de Elias repousa sobre Eliseu!'" (II Reis 2:15 BJ cf. Números 11:25-26).
O sentido de "ruwach", quando traduzido como "espírito", não está vinculado àquele "espírito" fictício de aparência fantasmagórica que supostamente habita o ser humano conduzindo a mente, e que em certas circunstâncias circula livremente pelo mundo. A Bíblia não utiliza o termo "ruwach" alicerçada nestas concepções pagãs. Nas Escrituras, a palavra "espírito" (ruwach) é frequentemente utilizada para: caracterizar a individualidade de uma pessoa (os atributos psicológicos e morais); mencionar o fôlego de vida, e identificar o Espírito de Deus. A seguir alguns significados atribuídos à palavra "espírito" (ruwach):
"Sentimentos":
"Pois não me faltam palavras, e dentro de mim o espírito [ruwach] me impulsiona." (Jó 32:18 NVI cf. Jó 32:19-20).
"A minha alma suspira por Ti de noite, sim, no meu íntimo, o meu espírito [ruwach] Te busca (...)" (Isaías 26:9 BJ).
"Mentalidade":
"(...) o seu coração se elevou, e o seu espírito [ruwach] se tornou soberbo e arrogante (...)" (Daniel 5:20 RAcf. Daniel 4:29-30Daniel 4:34-35).
"(...) Ai dos profetas insensatos, que andam segundo o seu próprio espírito [ruwach] e nada vêem." (Ezequiel 13:3 BJ).
"Comportamento":
"O seu proceder não lhes permite voltar para o seu Deus, porque um espírito [ruwach] de prostituição está no meio deles (...)" (Oséas 5:4 RA).
"Quem tem conhecimento é comedido no falar, e quem tem entendimento é de espírito [ruwach] sereno." (Provérbios 17:27 NVI).
"Caráter":
"Mas, como o Meu servo Calebe tem outro espírito [ruwach] e Me segue com integridade (...)" (Números 14:24 NVI).
"Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito [ruwach] inabalável." (Salmos 51:10 RA).
"Raciocínio"; aptidão de "raciocinar":
"Na verdade, há um espírito [ruwach] no homem, e o sopro(c) do Todo-Poderoso o faz sábio." (Jó 32:8RA).
"(...) Os desorientados de espírito [ruwach] obterão entendimento; e os queixosos vão aceitar instrução." (Isaías 29:24 NVI).
"Fôlego" de vida (vitalidade, força vital):
"Quando o espírito [ruwach] deles se vai, eles voltam ao pó (...)" (Salmos 146:4 NVI cf. Salmos 104:29).
"(...) Fala o Senhor, O que estendeu o céu, fundou a terra e formou o espírito [ruwach] do homem dentro dele." (Zacarias 12:1 RA).
"Espírito" de Deus:
"(...) e o Espírito [ruwach] de Deus pairava por sobre as águas." (Gênesis 1:2 RA).
"O Espírito [ruwach] do Senhor repousará sobre ele, o Espírito [ruwach] que dá sabedoria e entendimento, o Espírito [ruwach] que traz conselho e poder, o Espírito [ruwach] que dá conhecimento e temor do Senhor." (Isaías 11:2 NVI).
Como se pode observar, diversos sentidos são aplicados a palavra "espírito" (ruwach) e nenhum deles apresenta a ideia de que cada pessoa possui um ser particular e incorpóreo controlando as ações, tampouco que ele vagaria pela Terra por pendências morais, sendo posteriormente destinado ao Céu ou Inferno. Tanto os versos bíblicos que contêm a palavra "espírito" (ruwach), quanto os seus respectivos contextos, não transmitem estes ilusórios ensinos.


a. Acesse: Alma Vivente
b. "Ruwach", substantivo hebraico que significa: vento; direção (sentido, rumo); mente (intelecto, inteligência); espírito (vivacidade; disposição; respiração; temperamento; personalidade; sentimento). O termo "ruwach" ocorre 377 vezes no Antigo Testamento, e as traduções mais usadas para ele são: "espírito", "vento" e "fôlego". No Novo Testamento a palavra correspondente à "ruwach" é o substantivo grego "pneuma".
c. O "sopro" citado em Jó 32:8, não é o "fôlego de vida" mencionado em Gênesis 2:7. Eliú ao dizer: "há um espírito no homem, e o sopro do Todo-Poderoso o faz sábio", demonstrou aos seus ouvintes que o verdadeiro entendimento não era algo obtido com a idade, mas procedente do Espírito de Deus (Jó 32:6-8). Ele afirmou que a sabedoria era adquirida por aqueles que "entendem o que é reto" (Jó 32:9). E este entendimento não é algo inerente ao homem e muito menos encontra-se no "fôlego de vida", mas provém de Deus através de Seu Espírito (Provérbios 1:23; Isaías 11:2; Daniel 1:17). Assim, a frase: "sopro [nshamah] do Todo-Poderoso", refere-se a "inspiração de Deus" (iluminação divina) que conduz o homem à sabedoria; isso certamente "o faz sábio". Acesse: Fôlego de Vida.

sábado, 5 de abril de 2014

Fôlego de Vida

"Quem sabe se o fôlego de vida dos filhos dos homens se dirige para cima e o dos animais para baixo, para a terra?" (Eclesiastes 3:21 RA).
Seria o "fôlego de vida" uma figura de linguagem para referir-se a parte racional humana? Ou seria uma entidade independente do corpo que sobe ao Céu após a morte?


Em Gênesis 2:7 são revelados os dois elementos usados na formação do homem: "pó da terra" e "fôlego de vida". A expressão "fôlego de vida" presente neste verso origina-se do substantivo hebraico "nshamah"(a), que significa: respiração; espírito (impulso, estímulo de vida); inspiração (iluminação, esclarecimento divino).

Adão ao ser formado tinha todos os tecidos e órgãos estruturados, porém, destituídos de ação; eram inertes devido a ausência de vitalidade. Então, Deus concedeu àquele corpo inanimado proveniente do "pó da terra" ("és pó", Gênesis 3:19), a força vital necessária para que as suas funções orgânicas passassem a atuar; e essa força é chamada de "fôlego de vida".

Posteriormente, a perfeição física de Adão foi prejudicada quando ele se envolveu com o pecado, e desde então diversas mazelas passaram a ser realidade neste mundo. Quando o corpo perde definitivamente a sua capacidade homeostática(b), o "fôlego" (princípio vitalizador do corpo) não tem como agir e a vida cessa. Isso pode ser comparado a uma lâmpada que, ao perder a sua integridade física, impede que a energia elétrica atue proporcionando luz. Adiante alguns textos que auxiliam nesta questão:
"Algum tempo depois o filho da mulher, dona da casa, ficou doente, foi piorando e finalmente parou de respirar [nshamah]." (I Reis 17:17 NVI).
"Enquanto eu tiver vida em mim, o sopro [nshamah] de Deus em minhas narinas." (Jó 27:3 NVI).
"O Espírito de Deus me fez, e o sopro [nshamah] do Todo-Poderoso me dá vida." (Jó 33:4 RA).
"Parem de confiar no homem, cuja vida não passa de um sopro [nshamah] em suas narinas. Que valor ele tem?" (Isaías 2:22 NVI).
"Se Deus pensasse apenas em Si mesmo e para Si recolhesse o Seu Espírito e o Seu sopro [nshamah], toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó." (Jó 34:14-15 RA).
Outros termos utilizados para especificar o "fôlego"(c) (sopro ou alento) de vida concedido por Deus às Suas criaturas são "ruwach"(d) e "pneuma"(e):
"De toda carne, em que havia fôlego [ruwach] de vida, entraram de dois em dois para Noé na arca." (Gênesis 7:15 RA).
"Em Sua mão está a vida de cada criatura e o fôlego [ruwach] de toda a humanidade." (Jó 12:10 NVI).
(...) quando lhes retiras o fôlego [ruwach], morrem e voltam ao pó." (Salmos 104:29 NVI).
"Quem sabe se o alento [ruwach] do homem sobe para o alto e se o alento [ruwach] do animal desce para baixo, para a terra?" (Eclesiastes 3:21 BJ).
"Com efeito, como o corpo sem o sopro [pneuma] da vida é morto, assim também é morta a fé sem obras." (Tiago 2:26 BJ).
"Contudo, depois dos três dias e meio, um sopro [pneuma] de vida, vindo de Deus, penetrou-os, e eles se puseram em pé. (...)" (Apocalipse 11:11 BJ).
Em posse dessas informações que esclarecem o que é "fôlego de vida" e sua finalidade, a própria Bíblia apresenta as respostas para as questões levantadas no início deste estudo ao declarar que o "fôlego" concedido ao ser humano é idêntico ao dos outros seres vivos:
"Morreu tudo o que tinha um sopro [nshamah] de vida nas narinas. Isto é, tudo o que estava em terra firme." (Gênesis 7:22BJ).
"Porque o que sucede aos filhos dos homens sucede aos animais; o mesmo lhes sucede: como morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo fôlego [ruwach] de vida, e nenhuma vantagem tem o homem sobre os animais; porque tudo é vaidade." (Eclesiastes 3:19 RA cf. Isaías 42:5).
A pergunta de Salomão em Eclesiastes 3:21, não foi realizada por desconhecimento do assunto, visto que ele já havia apresentado o devido esclarecimento em Eclesiastes 3:19. O motivo da pergunta de Salomão era eliminar as superstições sobre o tema e desafiar alguém a provar que seus ensinos eram falsos.

Portanto, o "fôlego" não é a parte racional (os pensamentos - um "sopro cognitivo"), e tampouco seria uma entidade consciente e independente que desloca-se rumo ao Céu após a morte do corpo. Pois, se assim fosse, todas as criaturas possuiriam raciocínio semelhante ao homem, ou, teriam a fictícia entidade sobrenatural(f) (a popular "alma") alojada no corpo. Além disso, o que difere a racionalidade humana dos demais seres vivos é a estrutura cerebral, cuja as funcionalidades são ativadas pelo "fôlego de vida", a vitalidade proveniente do Criador e Mantenedor de todas as coisas (Isaías 44:24Isaías 45:18).


a. O substantivo "nshamah" deriva do verbo "nasham", que significa: respirar de forma audível; ofegar.
b. Processos físico-químicos que mantém o organismo em constante equilíbrio; harmonia das diversas funções do corpo, seja ela física ou química, por exemplo: glicemia, pressão arterial, temperatura, respiração, imunidade, e etc.
c. Para um maior entendimento da aplicabilidade da palavra "fôlego" (ruwach ou nshamah), deve haver a distinção de quando ela é usada para denotar o processo de respirar (obter oxigênio): "Algum tempo depois o filho da mulher, dona da casa, ficou doente, foi piorando e finalmente parou de respirar [nshamah]." (I Reis 17:17 NVI); "Não me permite respirar [ruwach]; antes, me farta de amarguras." (Jó 9:18 RA). E, para referir-se à vitalidade, a força vital originada de Deus que proporciona a vida: "Em Sua mão está a vida de cada criatura e o fôlego [ruwach] de toda a humanidade." (Jó 12:10 NVI); "O Espírito de Deus me fez, e o sopro [nshamah] do Todo-Poderoso me dá vida." (Jó 33:4 RA).
d. "Ruwach", substantivo hebraico que significa: vento; direção (sentido, rumo); mente (intelecto, inteligência); espírito (vivacidade; disposição; respiração; temperamento; personalidade; sentimento). O termo "ruwach" ocorre 377 vezes no Antigo Testamento, e as traduções mais usadas para ele são: "espírito", "vento" e "fôlego". No Novo Testamento a palavra correspondente à "ruwach" é o substantivo grego "pneuma". Acesse: Espírito.
ePneuma, substantivo grego que significa: respiração (princípio vital que anima o corpo, fôlego de vida); vento; espírito (pensamento, entendimento, sentimento); espírito malignos (anjos demoníacos); anjo. Utilizado também para indicar: Espírito Santo (abrangendo Sua personalidade e ações); espírito de Cristo. Pneuma origina-se do verbo "pneo", que significa: respirar; soprar. No Novo Testamento, "pneo" ocorre em duas ocasiões: "(...) Ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego [pneo] e as demais coisas." (Atos 17:25 NVI); "De repente, veio do céu um som, como de um vento [pneo] impetuoso (...)" (Atos 2:2 RA).
f. Acesse: Alma Vivente