sábado, 25 de outubro de 2014

Roma versus Antíoco Epifânio

"O bode se engrandeceu sobremaneira; e, na sua força, quebrou-se-lhe o grande chifre, e em seu lugar saíram quatro chifres notáveis, para os quatro ventos do céu. De um dos chifres saiu um chifre pequeno e se tornou muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa. Cresceu até atingir o exército dos céus; a alguns do exército e das estrelas lançou por terra e os pisou. Sim, engrandeceu-se até ao Príncipe do exército; dEle tirou o sacrifício diário e o lugar do Seu santuário foi deitado abaixo. O exército lhe foi entregue, com o sacrifício diário, por causa das transgressões; e deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou.
Depois, ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que falava: 'Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados?' Ele me disse: 'Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado'." (Daniel 8:8-14 RA).
O "chifre pequeno" descrito em Daniel 8:9 é o mesmo de Daniel 7:8, e simboliza o império de Roma que, durante a sua fase pagã e papal, foi responsável por: conquistar os principais territórios do antigo império grego; autorizar a crucificação de Jesus; perseguir e assassinar o povo de Deus; destruir a cidade e o templo de Jerusalém; insultar o Criador; falsificar a lei de Deus e, obscurecer o ministério sumo sacerdotal de Cristo. Outra interpretação considera Antíoco Epifânio, um rei sírio que governou no II século a.C., como sendo esse "chifre pequeno". No entanto, a Bíblia e a História demonstram que Antíoco não enquadra-se nas especificações proféticas de Daniel capítulo 8.

Para os quatro ventos do céu
"O bode se engrandeceu sobremaneira; e, na sua força, quebrou-se-lhe o grande chifre, e em seu lugar saíram quatro chifres notáveis, para os quatro ventos do céu." (Daniel 8:8 RA). "De um dos chifres saiu um chifre pequeno e se tornou muito forte [...]" (Daniel 8:9 RA).
O "bode" citado em Daniel 8:8 representa o império da Grécia, que foi dividido em quatro reinos após a morte de Alexandre Magno (representado pelo "grande chifre"). Esses quatro reinos foram constituídos e governados inicialmente pelos generais: Cassandro, Lisímaco, Seleuco e Ptolomeu, os quais são simbolizados por "quatro chifres notáveis" e, diferem completamente do "chifre pequeno" citado em Daniel 8:9, especialmente quanto a origem; o "chifre pequeno" não procede de nenhum dos "quatro chifres" de Daniel 8:8.

Antíoco Epifânio foi um dos sucessores de Seleuco, e isso é ingenuamente associado à tradução equivocada de Daniel 8:9 que algumas versões bíblicas apresentam, como por exemplo, a "João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada" (RA) e a "Nova Tradução na Linguagem de Hoje" (NTLH):
"De um dos chifres saiu um chifre pequeno [...]" (Daniel 8:9 RA).
"De um desses chifres nasceu um chifre pequeno [...]" (Daniel 8:9 NTLH).
No texto original não é dito "de um dos chifres", mas, "de um deles". A palavra "chifres" foi adicionada indevidamente pervertendo as informações proféticas e auxiliando a propagar a falsa interpretação de que o "chifre pequeno" mencionado em Daniel 8:9 originou-se de um dos "quatro chifres" citados em Daniel 8:8. Esta atitude indiretamente induz ao engano de estabelecer o "chifre pequeno" como sendo Antíoco IV. O texto original de Daniel 8:8-9 diz:
"Então o bode tornou-se muito grande. Mas, embora estivesse em pleno vigor, seu grande chifre se quebrou e em lugar dele ergueram-se quatro outros 'magníficos' na direção dos quatro ventos do céu. De um deles saiu um pequeno chifre que depois cresceu muito [...]." (BJ).
Em Daniel 8:9, a frase "de um deles", provém do hebraico "'echad hem" e refere-se a "um" dos "quatro ventos" citados em Daniel 8:8. Após a divisão do império grego, as porções territoriais resultantes estavam distribuídas na direção dos "quatro ventos", ou seja, repartidas na direção dos "quatro pontos cardeais": norte, sul, leste e oeste (Daniel 11:4 cf. I Crônicas 9:24Jeremias 49:36).

Enquanto Daniel 8:8 declara que o império da Grécia seria repartido em quatro reinos dispersos aos quatro pontos cardeais, o verso de Daniel 8:9 prossegue afirmando que "de um" desses pontos surgiria o "chifre pequeno". E qual a referência para se determinar a direção do seu surgimento?

A própria localização geográfica dos reinos de Cassandro, Lisímaco, Seleuco e Ptolomeu. Quando estes quatro reinos são analisados, nota-se que o início do império de Roma ocorreu justamente ao oeste de todos eles. Soma-se a isso, o esclarecimento de que o "chifre pequeno" se destacaria à medida que esses quatro reinos avançassem para a ruína, informação que também comprova o surgimento do "chifre pequeno" "de um" dos "quatro ventos" (quatro pontos cardeais):
"Os quatro chifres que tomaram o lugar do chifre que foi quebrado são quatro reis. Seus reinos surgirão da nação daquele rei, mas não terão o mesmo poder. No final do reinado deles, quando a rebelião dos ímpios tiver chegado ao máximo, surgirá um rei de duro semblante, mestre em astúcias." (Daniel 8:22-23 NVI).
Parafraseando o texto de Daniel 8:22-23: "Os quatro generais que sucederam o lugar de Alexandre Magno, ao morrer, se tornarão quatro reis. Seus reinos procederão do império de Alexandre, mas não terão o mesmo poder. No final desses quatro reinos, quando a rebelião dos ímpios tiver chegado ao máximo, dominará um chifre pequeno de duro semblante, mestre em astúcias".

Durante os seus esclarecimentos, o anjo Gabriel não afirma que o "rei de duro semblante"(a) (chifre pequeno) originaria-se "de um" dos "quatro reis" (Cassandro, Lisímaco, Ptolomeu e Seleuco); mas, que o "chifre pequeno" revelaria-se (assumiria o poder) no momento em que todos os "quatro reinos" (estabelecidos pelos quatro reis) estivessem na iminente extinção - "no final do reinado deles [...] surgirá um rei de duro semblante" (Daniel 8:23 NVI).

O anjo Gabriel foi claríssimo em dizer que o "chifre pequeno" surgiria nos últimos momentos dos "quatro reinos". E, obviamente, esta ruína envolve o reino de Seleuco que Antíoco Epifânio herdou em avançado estado de decadência. Sobre isso, duas informações precisam ser confrontadas: em 164 a.C., findou o período em que Antíoco governou o reino selêucida (após sua liderança, vários reis tomaram posse do trono) e, em 64 a.C., o reino selêucida foi eliminado pelo império romano. Sendo assim, vem a pergunta: Em 64 a.C., depois de 100 anos, ou pouco antes do reino de Seleuco deixar de existir, Antíoco surge liderando algo?

Portanto, o império de Roma atende perfeitamente a narrativa profética atribuída ao "chifre pequeno", uma vez que: se originou ao oeste dos reinos de Cassandro, Lisímaco, Seleuco e Ptolomeu; se destacou enquanto estes reinos encontravam-se em colapso; marchou em direção a eles e, dominou os territórios que outrora lhes pertenciam.

Na direção do sul, do leste e da terra Magnífica
"De um deles saiu um pequeno chifre, que logo cresceu em poder na direção do sul, do leste e da terra Magnífica." (Daniel 8:9 NVI).
Em linguagem profética a palavra "chifre" significa: "rei", "reino", "poder" ou "domínio"(b)(Daniel 7:24). E Daniel relatou que o "chifre pequeno" iniciaria o seu reinado com inexpressiva força, mas cresceria e dominaria: ao sul, ao leste e, conquistaria também a "terra Magnífica". E Antíoco Epifânio não iniciou nenhum reino, mas assumiu o reinado selêucida que vinha assolado por grandes perdas territoriais desde o século III e encontrava-se em acentuado declínio no século II; ele tampouco expandiu o seu legado.

Comparando a expansão territorial descrita em Daniel 8:9, com a área que Antíoco recebeu e governou ao se tornar rei (175 a.C.), observa-se que ele não pode ser enquadrado na profecia, visto que: ao sul, ele tinha os territórios arábico e o ptolemaico que nunca foram anexados ao reino selêucida durante o seu reinado; ao leste, ele tinha o território parta que pertencera ao reino de Seleuco e nunca fora recuperado; e, a "terra Magnífica" (Palestina), já era de domínio selêucida antes dele assumir o trono.12 Portanto, Antíoco Epifânio não pode ser associado às conquistas do "chifre pequeno", pois ele não "cresceu em poder na direção do sul, do leste e da terra Magnífica." (Daniel 8:9 NVI).

Antíoco IV tentou governar em território africano mas fracassou. Apesar de sua primeira investida contra várias localidades no Egito, ele nunca as governou efetivamente; Alexandria, principal cidade dessa região, nunca ficou sob seu domínio. Em 168 a.C., quando ele intencionou atacar novamente o Egito (que na ocasião estava sob tutela romana, embora governado pela dinastia ptolomaica), recebeu através do embaixador Gaius Popillius Laenas um ultimato de Roma que ordenava sua saída imediata das terras egípcias. Surpreendido, pediu tempo para pensar. Então Gaius com seu bastão desenhou um círculo em volta de Antíoco e exigiu uma resposta antes que deixasse aquele círculo. Constrangido e desolado por esta humilhação pública, ele concordou rapidamente em cumprir o ultimato e retirou-se com o seu exército.3

Antíoco Epifânio nunca proporcionou uma liderança que revertesse ao menos temporariamente a extinção do reino de Seleuco, que ocorreu em 64 a.C., quando o império romano incorporou em seus domínios a Síria e Cilícia, os últimos territórios selêucidas.

E ao contrário do frágil e frustrado reinado de Antíoco, o império de Roma(c)atende inteiramente o relato profético de Daniel 8:9, pois: expandiu o seu domínio "para o sul" - extremo norte da África, com destaque para os territórios cartaginês e egípcio; "para o leste" - Macedônia, Ásia Menor e Síria; e, apoderou-se da "terra Magnífica" - Palestina, incorporada em 63 a.C.

O lugar do Seu santuário foi deitado abaixo
"Cresceu até atingir o exército dos céus; a alguns do exército e das estrelas lançou por terra e os pisou. Sim, engrandeceu-se até ao Príncipe do exército; dEle tirou o sacrifício diário e o lugar do Seu santuário foi deitado abaixo. O exército lhe foi entregue, com o sacrifício diário, por causa das transgressões; e deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou." (Daniel 8:10-12 RA).
A palavra "exército" usada nos versos acima, e também em Daniel 8:13, simboliza o "povo de Deus" que foi perseguido implacavelmente pelo "chifre pequeno" (Daniel 8:10), interpretação concedida pelo anjo Gabriel ao dizer: "[...] Provocará devastações terríveis e será bem-sucedido em tudo o que fizer. Destruirá os homens poderosos e o povo santo." (Daniel 8:24 NVI). Em sua trajetória o "chifre pequeno" investira também contra Jesus, o Príncipe ou Comandante do exército de Deus (Josué 5:13-15 cf. Daniel 8:25), e contra o Seu ministério sumo sacerdotal no santuário celeste (Daniel 7:24-25 cf. II Tessalonicenses 2:3-4).

E novamente Antíoco Epifânio não revela-se como o responsável pelo cumprimento das profecias. Embora ele tenha perseguido os judeus e atacado o templo de Jerusalém, as suas investidas: não foram destinadas diretamente ao "Príncipe do exército" (Daniel 8:11); tiveram consequências apenas locais sem atingir o período do "tempo do fim" (Daniel 8:17-19, 26); e, não foram capazes de "lançar por terra a verdade" (Daniel 8:12). Epifânio inclusive testemunhou o fracasso de seu objetivo em aniquilar os ensinos e a influência de Deus na Palestina.

Após Antíoco ter sido banido do Egito pelo império de Roma, ele volveu-se ferozmente contra a Palestina em busca de recursos financeiros, e com mais empenho contra Jerusalém, onde pretendia extinguir a cultura judaica e consolidar a cultura helenística(d). Ele proibiu, sob pena de morte, os judeus de exercer o regimento da Torah; construiu vários monumentos pagãos nas cidades judias; e, profanou o templo de Jerusalém erigindo uma estátua de Zeus e praticando liturgias pagãs no altar. E estas coisas ocorreram com o apoio de muitos judeus, sobretudo de alguns sacerdotes do templo e de outros membros da alta sociedade que eram simpatizantes do helenismo e almejavam adota-lo em Jerusalém. Na ocasião houve troca de interesses entre Antíoco e os seus aliados judeus mais importantes, enquanto estes evitavam resistências aos seus planos e concediam-no recursos financeiros (até mesmo do templo), Antíoco lhes outorgava poder local.4

Todavia, as perseguições e perversões promovidas por Antíoco e seus aliados judeus foram eliminadas pelo movimento de libertação conduzido por Judas Maccabeus.5 Simultaneamente a este movimento, ocorreram diversas revoluções contra Epifânio em outras localidades de seu reino e, à semelhança de Jerusalém, ele foi derrotado e por fim sucumbiu à morte em Tabae, Pérsia (atual Irã). A curta atuação de Antíoco Epifânio como rei (175 - 164 a.C), definitivamente não condiz com os relatos proféticos. Ademais, as coisas que ele fazia não prosperavam (Daniel 8:12 cf. Daniel 8:24).

Os acontecimentos especificados em Daniel 8:10-12 foram concretizados pelo império de Roma em suas duas fases: pagã e papal. A fase pagã do império romano foi responsável por: autorizar a crucificação de Jesus (Príncipe do exército); assassinar os Seus seguidores (exército do céus); destruir a cidade e o templo de Jerusalém(e) em 70 d.C.; e, exigir adoração suprema ao imperador de Roma.

Durante a sua fase papal, o império romano foi responsável por: perseguir e assassinar os cristãos (exército dos céus) que não se submeteram à vontade da igreja de Roma (Daniel 8:24); falsificar a lei de Deus(f) (Daniel 7:25); defender arduamente o papado como tendo as mesmas prerrogativas de Deus (II Tessalonicenses 2:3-4); e, obscurecer o ministério intercessório de Jesus no santuário celestial. Neste último caso, a intercessão de Jesus foi e continua sendo substituída pela fictícia "intercessão" de homens, os quais acreditam deter o poder para perdoar pecados; e, pela imposição de um sistema que ilusoriamente oferece salvação mediante as obras ao exigir penitências, indulgências, confessionários, e etc. Tais coisas ainda hoje são ensinadas e praticadas por milhões de pessoas em todo o mundo; milhões de cristãos são desviados diariamente de buscarem a intercessão de Jesus(g). Em outras palavras, retiraram dEle "o sacrifício diário e o lugar do Seu santuário(h) foi deitado abaixo" (Daniel 8:11 RA). Assim, a fase papal do império romano "deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou" (Daniel 8:12 RA).

Até quando prevalecerá a transgressão devastadora?
"Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados? Ele me disse: 'Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado'." (Daniel 8:13-14 RA).
O "chifre pequeno" exerceria sua transgressão plenamente até o "tempo do fim" (Daniel 8:17Daniel 12:9-10), ou seja, ele continuaria dominando o mundo cristão e teria pleno êxito em desvirtuar os ensinos da Bíblia, especialmente a verdade concernente ao ministério de Cristo no santuário celestial, até o fim das "2300 tardes e manhãs". Este período de tempo em linguagem profética representam "2300 dias" e, em linguagem literal, equivalem a 2300 anos(i).

A lacunosa teoria que vincula Antíoco Epifânio ao "chifre pequeno" complica-se ainda mais quando o fator tempo da visão de Daniel é considerado, visto que as perseguições de Antíoco contra o templo e o povo de Deus ocorreram por "1090 dias" literais(j) e, consequentemente, não atingiram o término dos "2300 dias" proféticos que conduzem ao "tempo do fim" (aos "dias longínquos", Daniel 8:17-19, 26). Todavia, criou-se um artifício frustrado na tentativa de harmonizar os "1090 dias" de opressão de Antíoco, com os "2300 dias" proféticos citados em Daniel 8:14. E para que esse artifício fosse elaborado, o real significado da expressão "tarde e manhã", e o seu sentido no contexto das profecias foram completamente ignorados.

Nas questões que envolvem intervalo de tempo, a Bíblia usa a palavra "tarde" para indicar a "noite" e "manhã" para indicar o "dia", e esta distinção provém do próprio Criador: "Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia." (Gênesis 1:5 RA). Uma "tarde e manhã" refere-se ao período de "um dia" (tempo compreendido entre um pôr do Sol ao outro). E nas Escrituras a expressão "tarde e manhã" é utilizada apenas em três ocasiões: no relato da criação (Gênesis capítulo 1), no diálogo entre dois seres santos (Daniel 8:13-14), e nas explicações de Gabriel relativas à visão profética que Daniel recebeu (Daniel 8:26).

Esses esclarecimentos bíblicos são rejeitados propositalmente por aqueles que consideram Antíoco como sendo o "chifre pequeno", porque tais informações confrontam fortemente a ideia defendida por eles, a saber: que a expressão "tarde e manhã" representa "sacrifícios" (por causa dos holocaustos obrigatórios que ocorriam no santuário, um ao entardecer e outro ao amanhecer, Êxodo 29:38-39). Por conseguinte, na estranha teoria que relaciona Antíoco ao "chifre pequeno", as "2300 tardes e manhãs" seriam "2300 sacrifícios". E ainda de acordo com ela, por ter sido obrigatório dois sacrifícios por dia na antiga aliança, então foram necessários "1150 dias" para realizar os "2300 sacrifícios". Assim, por meio dessa artimanha dispensacionalista, o tempo profético das "2300 tardes e manhãs" são reduzidos para "1150 dias" literais.

Tanto o fundamento teórico quanto a aplicabilidade desses "1150 dias" revelam-se falaciosos, pois a Bíblia, além de não apresentar sinonímia(l) entre a expressão "tarde e manhã" e o substantivo "sacrifício", esses "1150 dias" não coincidem com os "1090 dias" de perseguição e transgressão de Antíoco, visto que faltam 60 dias para concluir o suposto ciclo de "1150 dias". Na realidade não existe um período de atuação de Antíoco que coincida exatamente com os fictícios "1150 dias". Outro ponto que reprova Antíoco como protagonista da profecia de Daniel 8:13, é o fato de que Deus não instituiu o Seu reino eterno quando ele foi derrotado por Judas Maccabeus, ou após a sua morte, porquanto, sobre o "chifre pequeno é dito":
"Estava eu contemplando: e este chifre movia guerra aos santos e prevalecia sobre eles, até o momento em que veio o Ancião e foi feito o julgamento em favor dos santos do Altíssimo. E chegou o tempo em que os santos entraram na posse do reino." (Daniel 7:21-22 BJ).
Se o "chifre" citado em Daniel 7:21 e Daniel 8:9 fosse Antíoco, o povo de Deus não deveria está desfrutando neste exato momento o reino eterno, uma vez que o domínio selêucida e o próprio Antíoco foram destruídos a mais de dois milênios atrás? Onde está o reinado dos santos mencionado em Daniel 7:27? A propósito, teria o Céu mobilizado-se inteiramente com o objetivo de estabelecer um tribunal para julgar e destruir as ações de Antíoco? (cf. Daniel 7:9-10, 26).

Certamente que há um tribunal no Céu em processo, mas ele não foi instaurado por causa de Antíoco Epifânio e sim para julgar cada pecado e pecador deste mundo. E sem dúvida o reino de Deus será estabelecido, mas isso ocorrerá quando Cristo encerrar o Seu ministério de intercessão no santuário celestial e voltar para resgatar os redimidos(m); todos os "reinos" (Estados) vigentes nesta ocasião chegarão ao fim (Daniel 2:44Daniel 7:27), especialmente a extensão do império de Roma que ainda exerce suas atividades nos dias atuais(n), embora sem o mesmo poder de outrora (Daniel 7:24-26Daniel 8:25).

Considerações finais
Os capítulos 27 e 8 do livro de Daniel descrevem paralelamente os mesmos eventos proféticos e citam a mesma sequência de quatro impérios. Tanto os quatro metais da estátua de Daniel capítulo 2, quanto os quatro animais de Daniel capítulo 7 simbolizam respectivamente os impérios da Babilônia, da Medo-Pérsia, da Grécia e de Roma. Os pés da estátua, obviamente com os seus dez dedos (Daniel 2:33, 41), e os dez chifres do quarto animal (Daniel 7:19-20, 24), representam as dez divisões bárbaras que resultaram com o fim do império romano. E os reinos (Estados) formados após esta divisão nunca mais se uniriam para estruturar um único império. Os territórios que fizeram parte do domínio de Roma nunca mais se unirão, continuarão separados até o retorno de Jesus (Daniel 2:43-44).

A análise da crescente superioridade de cada império sobre o seu antecessor é outro detalhe que apoia o império romano na figura do "chifre pequeno". O império medo-persa que era considerado forte, foi derrotado pelo império grego que possuía força superior, e este por sua vez teve seus territórios conquistados pelo "chifre pequeno", que era extremamente forte em relação aos seus antecessores (Daniel 8:4-9).

E o reino de Antíoco IV, herdado de Seleuco, não exerceu força superior em relação ao extinto império da Grécia (cf. Daniel 8:22); pelo contrário, a sua força não foi capaz sequer de aumentar as fronteiras da fração selêucida que ele herdou, tampouco foi uma ameaça para o império de Roma. A fragilidade e submissão de Antíoco Epifânio ao império romano era algo marcante deste o início de seu reinado. Ainda em 173 a.C., ele pagava uma indenização exigida por Roma em decorrência de guerras contra o seu antecessor, Antíoco III; inclusive isso foi um dos principais motivos que conduziu Epifânio a saquear freneticamente dentro e fora de seu território.

O contexto bíblico e histórico de Daniel capítulo 8 eliminam completamente a teoria de que Antíoco Epifânio seja o "chifre pequeno". Entretanto, o mesmo não pode ser dito sobre o império de Roma, que preenche satisfatoriamente as descrições proféticas sobre ele.


a. A mesma expressão, "duro semblante" ou "aparência feroz" (hb. 'az paniym), é usada em Deuteronômio 28:50. E muitos comentaristas bíblicos (gentios e judeus) aplicam os versos de Deuteronômio 28:49-55 à atuação do império de Roma sobre a nação de Israel, e os seguintes argumentos são apresentados: a "águia" do verso 49 é a mesma "águia" do estandarte romano; o "idioma desconhecido" do verso 9 é o "latim" oficial dos romanos (um idioma na época completamente desconhecido pelos judeus); a "usurpação" dos animais e das plantações destinados ao consumo (verso 51), foi ocasionada pelos romanos durante o "cerco" (verso 52) das cidades fortificadas da Palestina, especialmente Jerusalém em 70 d.C.; e, o canibalismo entre os judeus (verso 53), ocorreu pela falta de alimento durante o sítio do império romano (verso 54-55).
b. Algumas aplicações da palavra "chifre" de Daniel 8:9, que é traduzida do hebraico "qeren": "E Ele reforça o vigor [qeren] do seu povo! (148:14 BJ). "O poder [qeren] de Moabe foi eliminado; seu braço está quebrado, declara o Senhor". (Jeremias 48:25 NVI); "No furor de sua ira abateu toda a força [qeren] de Israel [...]" (Lamentações 2:3 BJ).
c. Acredita-se que Roma foi fundada em 753 a.C., tornando-se uma pequena república em 509 a.C. após o seu último rei, Lucius Tarquinius Superbus, ter sido derrotado. Posterior à sua restruturação política, Roma conquistou a parte central da Itália; mas iniciou efetivamente a sua expansão territorial a partir de 334 a.C.
d. Referente a cultura grega que se desenvolveu após as conquistas de Alexandre, o Grande; filosofias e tradições da Grécia antiga.
e. Confirmando a profecia de Cristo: "Alguns dos Seus discípulos estavam comentando como o templo era adornado com lindas pedras e dádivas dedicadas a Deus. Mas Jesus disse: 'Disso que vocês estão vendo, dias virão em que não ficará pedra sobre pedra; serão todas derrubadas'." (Lucas 21:5-6 NVI).
g. Acesse: Jesus, o Advogado
j. Por três anos e 10 dias, de acordo com I Macabeus 1:54 e I Macabeus 4:52-54 (livro apócrifo). Too in: VAUX, R. De. (1997). Ancient Israel: Its Life and Institutions, Michigan: Wm. B. Eerdmans Publishing p. 325.
l. Uso de palavra ou expressão em substituição a outra de significado próximo; ato de expressar a mesma coisa por palavras sinônimas; relação entre termos ou expressões com o mesmo sentido ou sentido semelhante.
m. Acesse: Finda-se o Tempo
1. "Palestine". (2010). Encyclopædia Britannica. Chicago: Encyclopædia Britannica; (topic: "The Seleucids").
2. BEVAN, E. R. (1902). The House of Seleucus, vol. II, London: Edward Arnold, p. 159.
3. "Antiochus IV Epiphanes". (2010). Encyclopædia Britannica. Chicago: Encyclopædia Britannica; SICKER, M. (2001). Between Rome and Jerusalem: 300 Years of Roman-Judaean Relations, Westport, CT: Praeger Publishers, p. 11.
4. "Antiochus IV Epiphanes". (1995). The International Standard Bible Encyclopedia, vol. I, Michigan: Wm. B. Eerdmans Publishing, p. 145; ROGERSON, J. W.; LIEU, J. M. (2006). The Oxford Handbook of Biblical Studies, New York: Oxford University Press Inc., p. 289-293; "Antiochus IV Epiphanes". (2010). Encyclopædia Britannica. Chicago: Encyclopædia Britannica; "Maccabeus, Judas". (2010). Encyclopædia Britannica. Chicago: Encyclopædia Britannica; "Antiochus IV, Epiphanes". (1901). The Jewish Encyclopedia, vol. I, New York: Funk and Wagnalls Company, p. 634-635; BEVAN, obcit., p. 168-172.
5. "Maccabeus, Judas". (2010). Encyclopædia Britannica. Chicago: Encyclopædia Britannica.


sábado, 18 de outubro de 2014

Princípio do Dia Profético

O "princípio do dia profético" consiste em associar "1 ano" para cada "1 dia" citado em determinadas profecias bíblicas. Vários teólogos judeus e gentios através dos tempos aplicaram este princípio às "2300 tardes e manhãs" de Daniel 8:14 e, às "setenta semanas" de Daniel 9:24. Entre esses teólogos encontra-se o judeu Rashi(a), que traduziu Daniel 8:14 da seguinte maneira: "E ele disse-me: 'Até 2300 anos [...]'." O princípio do dia profético tem sido reconhecido e aceito em todo o mundo durante séculos, por isso, não procede a insinuação de que seja uma inovação adventista.

O fundamento bíblico para afirmar que os "2300 dias"(b) de Daniel 8:14, são na verdade "2300 anos", esta nos versos de Números 14:34 e Ezequiel 4:5-7 que dizem respectivamente: "[...] cada ano corresponderá a cada um dos quarenta dias em que vocês observaram a terra." (NVI); "determinei que o número de dias seja equivalente ao número de anos [...] um dia para cada ano." (NVI).

O Antigo Testamento apresenta outro vínculo de proporcionalidade entre "dia" e "ano" bastante usado por várias versões bíblicas, embora elas utilizem em alguns textos a palavra "ano", no original hebraico tem-se a palavra "dias". Por exemplo, em Êxodo 13:10 costuma-se aplicar a expressão "de ano em ano" enquanto no texto original consta "de dias em dias": "Cumpra esta determinação na época certa, de ano em ano [de dias em dias]." (NVI). O mesmo ocorre em I Samuel 27:7: "Davi morou em território filisteu durante um ano [dias] e quatro meses." (NVI). No hebraico a palavra geralmente usada para especificar o período de "1 ano" é "shanah" (no plural, shaneh), porém, nos casos em pauta a palavra "dias" (yowm) foi utilizada, o que demonstra uma ligação direta e representativa de "ano".

E essa relação "dia-ano" deve ser aplicada nas profecias do livro de Daniel, como naquelas descritas nos capítulo 78 e 9. Exemplificando, o verso de Daniel 9:25 declara que: "desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido", haveria um espaço de tempo de "sessenta e nove semanas". A ordem para esta restauração foi entregue pelo rei Artaxerxes I em 457 a.C., e a partir dela até o Ungido (até o batismo de Jesus, 27 d.C) transcorreram 483 anos. E, em linguagem profética, este período corresponde exatamente às 69 semanas (69 x 7 = 483 dias proféticos ou 483 anos literais).
Se o período profético de 69 semanas representasse literalmente 483 dias, o que equivale a "1 ano4 meses e 3 dias", isso reduziria excessivamente o intervalo entre a restauração de Jerusalém e o batismo de Jesus, tornando a profecia sem fundamento bíblico e histórico. O princípio do dia profético precisa ser aplicado em Daniel 9:25, ou o mesmo torna-se sem sentido.

A proporção de "1 dia" para cada "1 ano" ajusta-se perfeitamente nos eventos que ocorreram ao longo das 70 semanas (490 anos), e estas semanas estão inseridas no intervalo de tempo maior, a saber: os "2300 dias" (2300 tardes e manhãs). Portanto, se o princípio for usado apenas nas 70 semanas a profecia torna-se ilógica, pois é impossível "2300 dias" literais conter 490 anos. A única maneira de harmonizar esta questão é aplicando o princípio do dia profético aos "2300 dias". Outra prova a favor desta aplicação é a análise do contexto de Daniel 8:13:
"[...] Quanto tempo durarão os acontecimentos anunciados por esta visão? Até quando será suprimido o sacrifício diário e a rebelião devastadora prevalecerá? Até quando o santuário e o exército ficarão entregues ao poder do chifre e serão pisoteados?" (NVI).
Em Daniel 8:13 é questionado o término de tudo aquilo que foi testemunhado na visão (Daniel 8:1-12), especialmente o término da hegemonia satânica (Daniel 8:10-12), pois ela: ocultava fortemente a atuação de Cristo no santuário celestial (o pecador estava sendo impedido de buscar a intercessão de Cristo, Daniel 8:25II Tessalonicenses 2:3-4); perseguia implacavelmente os filhos do Altíssimo (Daniel 7:21-22Apocalipse 12:17); e, ousadamente, estabelecera e exaltava a lei de Deus falsificada(c) (Daniel 7:25). E a resposta à Daniel 8:13 foi que as coisas mencionadas na visão ocorreriam ao longo das "2300 tardes e manhãs" (Daniel 8:14), que correspondem a "2300 dias" proféticos ou "2300 anos" literais. Lembrando que os "2300 dias" proféticos abrangem o período dos impérios medo-persa, grego e romano(d).

Se os "2300 dias" não correspondessem a "2300 anos", eles seriam rigorosamente "6 anos3 meses e 20 dias". Então, como poderia esta contagem de tempo, literal, incluir os impérios citados? Impossível. Somente o império medo-persa durou 208 anos. Ademais, como poderia um período de "6 anos" abranger todos os eventos previstos até o "tempo do fim"?(e) Portanto, faz-se necessário o uso do princípio do dia profético pois a visão ultrapassa dois milênios e envolve todos os impérios e eventos relatados por Daniel. A proporção de "1 dia" para cada "1 ano" revela-se imprescindível em Daniel 8:14.

Um tempo, dois tempos e metade de tempo
"Proferirá insultos contra o Altíssimo e porá à prova os santos do Altíssimo; ele tentará mudar os tempos e a lei, e os santos serão entregues em suas mãos por um tempo, dois tempos e metade de um tempo." (Daniel 7:25 BJ).
Em Daniel capítulo 7 é descrito um poder representado por um "chifre pequeno" que reinou de forma soberana entre as nações, ele é o mais detalhado e os motivos estão sintetizados no verso 25. Mesmo após o fim do império Romano Ocidental, em 476 d.C., a sua instituição religiosa (igreja de Roma) permaneceu atuante e, em 538 d.C., o imperador bizantino Justiniano declarou que o bispo de Roma deveria ser reconhecido como o líder da igreja a nível mundial. Assim, a igreja Católica Apostólica Romana consolida seu poder religioso e recebe prerrogativas políticas inesgotáveis.

Daniel descreve que a igreja de Roma, representada pelo "chifre pequeno", teria pleno domínio por "um tempodois tempos e metade de um tempo" (Daniel 7:25). "Um tempo" (traduzido do hebraico 'iddan) equivale a "360 dias", nesse caso, a somatória de "um tempo, dois tempos e metade de um tempo" resulta em "1260 dias", que pelo princípio do dia profético correspondem a "1260 anos". Portanto, segundo Daniel 7:25, o período de supremacia religiosa e política da igreja de Roma seria de 1260 anos; intervalo de tempo em que ela impôs, conquistou e defendeu seus interesses de forma ferrenha(f).

Contando 1260 anos a partir de 538 d.C., chega-se a 1798 d.C., época em que o embaixador francês na Itália, Louis Alexandre Berthier (general das Forças Revolucionárias Francesas e chefe do Estado maior de Napoleão), invadiu Roma e prendeu o Papa Pio VI sob a alegação de insulto. O anel que indicava a autoridade do papa foi retirado e suas propriedades foram confiscadas e vendidas, em seguida o "Estado Papal" foi abolido e Roma foi declarada república. Ainda aprisionado, o papa morreu em Valença (França) no dia 29 de agosto de 1799. Assim, este episódio pôs fim ao longo período de supremacia do bispo de Roma.

Se o princípio do dia profético não fosse aplicado, os "1260 dias" resultariam em apenas "3 anos e 6 meses", tempo insuficiente para que a igreja de Roma desenvolvesse todos os eventos mencionados nas profecias (Daniel 7:25 cf. Daniel 8:10-12). Ademais, sua supremacia se estendeu até o "tempo do fim" (Daniel 8:17-19), época em que Deus Se assentou para julgar e definir o Seu reino(g). O capítulo 13 de Apocalipse também descreve a atuação da igreja romana e o seu tempo de hegemonia:
"À besta foi dada uma boca para falar palavras arrogantes e blasfemas, e lhe foi dada autoridade para agir durante quarenta e dois meses. Ela abriu a boca para blasfemar contra Deus e amaldiçoar o Seu nome e o Seu tabernáculo, e os que habitam nos céus." (Apocalipse 13:5-6 NVI cf. Daniel 7:25Daniel 8:13).
À semelhança de Daniel, João utiliza a linguagem profética para descrever o tempo de domínio da igreja romana quando menciona "42 meses". Levando em consideração o antigo calendário hebreu que possuía cada mês com 30 dias, tem-se: 42 meses x 30 dias = 1260 dias. E pelo princípio de "1 dia" correspondendo a "1 ano", os 42 meses equivalem a 1260 anos, o mesmo período descrito em Daniel 7:25 (cf. Apocalipse 12:6). Por conseguinte, observa-se que Daniel e João não atribuem à igreja de Roma (representada pelo "chifre pequeno", Daniel 7:8, e pela "besta do mar", Apocalipse 13:1) um domínio literal de "3 anos e 6 meses", pois tal período não é suficiente para abranger do início (538 d.C.) ao término (1798 d.C.) de sua hegemonia e, tampouco atingir o "tempo do fim".

Considerações Finais
capítulo 7 do livro de Daniel contém vários símbolos: um leão com asas, um urso com três costelas na boca, um leopardo com quatro asas e quatro cabeças, um animal com dentes de ferro, chifres que falam; enfim, simbologias que representam fatos históricos. E em meio a tantos símbolos por que somente as descrições de tempo seriam literais? Especialmente por serem citadas de maneira tão estranha? Daniel capítulo 8 também contém uma visão com imagens simbólicas, ambos os capítulos não apresentam profecias sobre animais, mas eventos proféticos que descrevem a história da humanidade. E é natural que o fator tempo seja apresentado também de forma simbólica em vez de literal. Além do mais, "tardes e manhãs" (do hebraico, 'ereb boqer) não é a maneira comum de mencionar dias, a palavra típica para dias no hebraico é "yowm".

Não seria mais simples ter dito: "Até seis anos, três meses e vinte dias, e o santuário será purificado", em vez de "2300 tardes e manhãs"? O verso de Daniel 8:14 não traz a forma típica de indicar tempo. Em II Samuel 5:5, por exemplo, é dito que o rei "reinou sobre Judá sete anos [shaneh] e seis meses", e não 2700 "tardes e manhãs". Até mesmo a expressão "setenta semanas" de Daniel 9:24 é incomum para estabelecer tempo. Portanto, diante dos fatos bíblicos e históricos apresentados, é inegável o fundamento e a aplicabilidade do "princípio do dia profético" nos capítulos 78 e 9 do livro de Daniel, tais capítulos simplesmente perdem o sentido sem o uso deste princípio.


Texto baseado no artigo: "O Princípio do Dia Profético", Revista Adventista, (Março, 1999), São Paulo: CPB, p. 32-33.
Leitura sugerida: "Scholarly Precedents for 1844, Ending of 2300 Year-Days". In: Questions on Doctrine: an explanation of certain major aspects of Seventh-Day Adventist belief, Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, (1957), sec. VI, chap. 27, p. 309-316.
a. Shlomo Yitzhaki (1040-1105 d.C.) foi um renomado rabino francês, destacou-se por seus comentários sobre o Talmud e aTanakh. Sua metodologia interpretativa de associar o literal e não-literal é outro ponto de grande relevância em seus ensinos.
b. Acesse: A Hora do Juízo
d. Embora a profecia envolva os impérios medo-persa, grego e romano, somente este último através de sua instituição religiosa concretiza as malignas atuações descritas nos versos de Daniel 8:10-12 (cf. Daniel 7:19-25). Os demais impérios são citados com o propósito de auxiliar na identificação do império de Roma. Para maiores detalhes acesse: Roma versus Antíoco Epifânio.
e. "Tempo do fim" (Daniel 8:19 cf. Daniel 12:4), difere de "fim dos tempos" (Mateus 24:14; João 6:40 cf. Daniel 12:2).

sábado, 11 de outubro de 2014

1844 e o Retorno de Jesus

William Miller, conhecido também por Guilherme Miller, foi teólogo batista licenciado em 12 de setembro de 1833 pela igreja Batista de Low Hampton, e tornou-se um dos principais líderes do movimento Milerita que pregava o retorno de Jesus em sua época. O certificado que lhe foi outorgado atestando os seus conhecimentos bíblicos, após 14 anos de estudo persistente e sistemático das Escrituras, está fotografado na obra "The Midnight Cry"1 de Francis David Nichol.

Um fato interessante ocorreu enquanto Miller pregava sobre a segunda vinda de Jesus, em quase todos os quadrantes do mundo e na mesma época, surgiram outros pregadores com o mesmo entusiasmo e dedicação levando a mensagem de que Jesus estava voltando, sem nunca terem tido contato antes entre si. Porém, nas Américas, Guilherme Miller foi o mais veemente arauto desta mensagem e seu trabalho ganhou tamanha repercussão que em 1840 seu ministério ficou conhecido como milerismo.

Os fervorosos pregadores da volta de Cristo em 1844, eram quase de todas as denominações existentes. Diversos ministros, oficiais e membros eram conhecidos como mileritas e pertenciam à várias igrejas, tais como: Protestante Episcopal, Metodista (Episcopal, Evangélica, Primitiva e Wesleyana), Batista (da Comunhão Restrita, Comunhão Livre, Calvinista e Arminiana), Presbiteriana, Reformada Alemã, Congregacional, Luterana, e etc.2 Nessa época ainda não existia a igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), que foi formada oficialmente 19 anos após o "grande desapontamento" de 1844.

Inicialmente com Himes e outros teólogos(a) que aceitaram que Cristo voltaria naquela ocasião, Miller começou a divulgar a mensagem; ele adotou o tipo metodista de reuniões campais e a primeira foi realizada na cidade de Boston, em maio de 1842. Tratados e folhetos foram distribuídos e milhares aderiram ao movimento. A mensagem original incluía um elemento de tempo sem apresentar uma data específica mas, posteriormente, foi determinado que Jesus voltaria em 1843. E como isso não ocorreu, revisaram seus cálculos fixando que em 22 de outubro de 1844 ocorreria o tão grande e aguardado advento. No entanto, se desapontaram, pois Jesus não voltou como esperavam. E Miller, após aquele "amargo dia" (Apocalipse 10:10), escreveu:
"Passou. E no dia seguinte parecia que todos os demônios do abismo foram soltos. As mesmas pessoas e muitas mais que estavam clamando por misericórdia dois dias antes, misturavam-se agora com a ralé, caçoando e ameaçando com blasfêmias."3
Dentro do movimento milerita, os relatos históricos desconhecem datas além daquelas propostas. E, apesar do forte golpe sofrido, Miller nunca hesitou em sua crença na breve volta de Cristo. Em 10 de novembro de 1844 ele escreveu para Himes: "Fixei minha mente sobre outro tempo, e aqui pretendo permanecer até que Deus me dê mais luz - e isto é hoje, 'hoje e hoje' até que Ele venha". Miller continuou a pregar e a encorajar outros com a esperança cristã, embora tivesse de lutar com mais adversários e críticos.4

Posteriormente àqueles dias, Miller escreveu: "A visão está ainda para cumprir-se no tempo determinado. [...] se tardar, espera-o porque certamente virá (Habacuque 2:3)". Esta foi sua posição sobre a segunda vinda de Cristo até sua morte aos 67 anos, em 20 de dezembro de 1849. Os estudos proféticos de Miller sobre Daniel 8:14 podem ser melhor compreendidos no contexto de um amplo movimento religioso que surgiu ao mesmo tempo na Europa e nas Américas durante o início do século XIX.

Apesar de ter sido um notável pregador e conhecedor das profecias e, de sua importante contribuição nos antecedentes históricos do adventismo, Miller dificilmente se tornaria um membro da igreja Adventista do Sétimo Dia, pois rejeitava as seguintes doutrinas defendidas pela mesma: existência do santuário celestial(b), a mortalidade da alma(c) e, a validade integral da lei de Deus(d); neste último caso ele não aceitava o quarto mandamento(e).

Com o término do reavivamento milerita, muitos dos ensinos relacionados às profecias de Daniel 8:14 daquele valoroso grupo foram absorvidos pela igreja Adventista do Sétimo Dia (oficialmente estabelecida em 1863); igreja que desde então continua a pregar a iminente volta de Jesus (Apocalipse 10:11), contudo, sem fixar uma data específica; o que na realidade nunca fez ou pretendeu fazer. Ellen Gould White, uma das pioneiras da igreja Adventista, igualmente, nunca determinou o tempo em que Jesus voltaria(f). Com relação aos cálculos que levaram à 22 de outubro de 1844(g), Miller estava correto, porém, se equivocara com o evento vinculado a eles.

Texto extraído e adaptado de: Joan Francis, "Guilherme Miller: o homem atrás da história de 1844". In: Diálogo, (1994) 6:3, p. 13-16; CHRISTIANINI, A. B. (1981). Subtilezas do Erro, 2.ª ed., São Paulo: CPB, cap. 6, p. 40-45.
Fonte suplementar: FROOM, L. E. (1954). The Prophetic Faith of Our Fathers, vol. IV, Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association.
a. Os primeiros quatro ministros que auxiliaram Guilherme Miller foram: Charles Fitch (igreja Presbiteriana), Joshua Vaughan Himes (movimento Conexão Cristã), Josiah Litch (igreja Metodista) e Joseph Bates (movimento Conexão Cristã).
f. Para promover caluniosas acusações e difamações contra Ellen White, a respeito deste assunto, um trecho de seus escritos é tendenciosamente isolado de seu contexto. Ele faz parte de um capítulo que descreve as cenas do segundo advento, mais precisamente o momento em que Cristo surgi nas nuvens para levar os redimidos ao Céu. Não há data determinada como os opositores falsamente alegam (cf. João 8:44). O referido trecho diz: "Logo ouvimos a voz de Deus, semelhante a muitas águas, a qual nos anunciou o dia e a hora da vinda de Jesus. Os santos vivos, em número de 144.000, reconheceram e entenderam a voz, ao passo que os ímpios julgaram fosse um trovão ou terremoto. Ao declarar Deus a hora, verteu sobre nós o Espírito Santo, e nosso rosto brilhou com o esplendor da glória de Deus, como aconteceu com Moisés, na descida do monte Sinai". Para ler o capítulo deste trecho acesse: Minha Primeira Visão.
g. Acesse: A Hora do Juízo
1. NICHOL, F. D. (1944). The Midnight Cry, Takoma Park, Washington, D.C.: Review and Herald Pub., p. 57.
2. HIMES, J. V.; BLISS, S.; HALE, A. (1844). The Advent Shield and Review, Boston: Published by Joshua V. Himes, p. 90.
3. GORDON, P. A.; ROBINSON, G. (1990). Herald of the Midnight Cry: William Miller and the 1844 movement, Boise, Idaho: Pacific Press Pub. Ass., p. 103.
4Ibidem, p. 107.


sábado, 4 de outubro de 2014

Este é o Dia...

"A Pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal Pedra, angular; isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos. Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele." (Salmos 118:22-24 RA).
Apoiados no trecho do verso 24, "este é o dia que o Senhor fez", os opositores do quarto mandamento criaram a infantil afirmativa de que isso seria uma referência ao "primeiro dia da semana" e, estaria relacionado com a ressurreição de Jesus. Esta insinuação forçada, tão somente comprova o irrisório e frágil conhecimento sobre o tema por parte de seus elaboradores e a ingenuidade daqueles que aceitam-na. O objetivo dessa errônea interpretação é justificar o desprezo premeditado da observância do sábado. Os versos de Salmos 118:22-24 referem-se a um incidente ocorrido durante a construção do templo de Salomão, e estão intimamente associados a rejeição de Jesus como o Messias prometido por Deus.
"[...] Ao ser erigido o templo de Salomão, as imensas pedras para as paredes e os fundamentos foram inteiramente preparadas na pedreira; depois de serem levadas para o local da construção, nenhum instrumento devia ser nelas utilizado; os obreiros só tinham que as colocar em posição. Fora trazida para ser empregada nos fundamentos uma pedra de dimensões extraordinárias, e de singular feitio; mas os construtores não conseguiam achar lugar para ela e não a queriam aceitar. Era-lhes um estorvo, jazendo para ali, sem utilidade. Por muito tempo assim ficou como pedra rejeitada.

Mas, ao chegar a ocasião de colocar a pedra angular, procuraram por muito tempo uma de tamanho e resistência suficientes e do devido formato, para ocupar aquele lugar e suportar o grande peso que sobre ela repousaria. Fizessem uma imprudente escolha para esse importante lugar, colocariam em risco a segurança de todo o edifício. Deveriam encontrar uma pedra capaz de resistir à influência do Sol, da geada e da tempestade. Várias pedras foram escolhidas, diversas vezes, mas, sob a pressão de imensos pesos despedaçaram-se. Outras não puderam suportar a prova das súbitas mudanças atmosféricas. Afinal, a atenção dos construtores foi atraída para a pedra por tanto tempo rejeitada.

Ficara exposta ao ar, ao Sol e à tempestade, sem apresentar a mais leve fenda. Os edificadores examinaram essa pedra; tinha suportado todas as provas, menos uma. Se pudesse resistir ao teste de vigorosa pressão, decidiriam aceitá-la como a pedra angular. Foi feita a prova, a pedra foi aceita e levada para o lugar designado; no local verificaram que ela ajustava-se perfeitamente. Em profética visão, foi mostrado a Isaías que essa pedra era um símbolo de Cristo."12

Assim como a "pedra angular" descrita por Davi suportou o grande peso submetido sobre ela, Cristo levou consigo o peso (a culpa e a punição) pelos pecados da humanidade (Isaías 53:3-4). O rei Davi e o profeta Isaías descreveram o dia (o tempo) em que a Pedra angular (Jesus Cristo), embora rejeitada pelo homem, seria enaltecida por Deus e estabelecida como a única base de sustentação para o pecador arrependido. Em Sua humilhação, Cristo foi desprezado e recusado, mas ao ser glorificado transformou-Se no centro de todas as coisas, tanto no Céu como na Terra (Efésios 1:22-23). A exaltação de Cristo não é obra humana, mas provém de Deus, que "O exaltou à mais alta posição" (Filipenses 2:5-11 NVI).

Paulo vivendo em uma época em que essa profecia já havia se cumprido, recordou as palavras de Deus: "No tempo favorável, Eu te ouvi. E no dia da salvação vim em teu auxílio." (cf. Isaías 49:8). E em seguida declarou: "Eis agora o tempo favorável por excelência. Eis agora o dia da salvação." (II Coríntios 6:2 BJ). O patriarca Abraão, assim como Davi, contemplou o dia que Deus concretizaria a Sua ajuda em favor da humanidade:
"Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o Meu dia, viu-o e regozijou-se." (João 8:56 RA).
"Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele." (Salmos 118:24 RA).
Estes versos referem-se ao mesmo acontecimento profético. Deus concedeu a Abraão e a Davi a oportunidade de contemplarem o dia (a época, o tempo) tão aguardado em que a salvação se consolidaria na vida daqueles que sustentaram a fé no sacrifício de Cristo. E esse dia (períodomomento) estava preparado "desde a fundação do mundo" (Apocalipse 13:8).

O contexto e a inter-relação dos versos bíblicos que tratam deste assunto não proporcionam nenhuma base para se considerar que Salmos 118:24 esteja referindo-se ao "primeiro dia da semana" ou, faça alguma alusão a um dia de descanso. A Bíblia também não atribui a característica de "pedra angular" a Jesus por causa de Sua ressurreição. John Wesley (pioneiro do movimento metodista) e os comentaristas bíblicos Jamieson (presbiteriano), Fausset (presbiteriano) e Brown (anglicano), fazem as seguintes avaliações sobre os versos de Salmos 118:22-24:
"A comunidade de Israel e a igreja de Deus são aqui e em outros lugares comparadas a um edifício, onde, as pessoas são as pedras, e os príncipes e governantes são os construtores. E assim como esses mestres-construtores rejeitaram a Davi, igualmente os seus sucessores rejeitaram a Cristo, a Pedra angular de todo o edifício, pela qual as demais partes são sustentadas e firmemente unidas. Assim como Davi uniu todas as tribos e as famílias de Israel, Cristo uniu judeus e gentios. Portanto, Cristo é justamente esse lugar descrito em Marcos 12:10Atos 4:11Romanos 9:32 e Efésios 2:20. [...] Consagrado para uma época que jamais será esquecida."3

"Estas palavras são aplicadas por Cristo (Mateus 21:42) a Si mesmo, como o alicerce da igreja (compare Atos 4:11Efésios 2:20I Pedro 2:4-7). Pode-se aqui representar a exaltação maravilhosa de Deus através do poder e influência dAquele a quem os governantes da nação desprezaram. [...] há aqui simbolicamente os surpreendentes feitos de Deus em exaltar a Cristo, crucificado como um impostor, para ser o Príncipe, Salvador e Cabeça de Sua igreja. Este é o dia - ou período expressivo da graça de Deus por todos."4
Outros estudiosos da Bíblia como Agostinho, Lutero e Calvino também negam que os versos de Salmos 118:22-24 refiram-se ao "primeiro dia da semana", ou que tratem de um dia de guarda semanal. Para eles, estes versos discorrem sobre a celebração da festa dos Tabernáculos, e que o trecho, "este é o dia", esta relacionado a esse dia festivo ou a qualquer outro dia de celebração vinculado às festividades de Israel.


1. WHITE, E. G. Desejado de Todas as Nações, O; São Paulo: CPB, sec. VII, cap. 65, p. 597-598.
2. Isaías 8:13-15; Isaías 28:16; Mateus 21:42; I Pedro 2:6-7.
3. John Wesley, Wesley's Notes on the Bible, Psalms 118:22-24.
4. Robert Jamieson, Andrew Robert Fausset, David Brown, Commentary Critical and Explanatory on the Whole Bible, Psalms 118:22-24.